ENTREVISTA: ADNAN PANIAGUÁ

26-09-2009

Adnan Paniaguá é o entrevistado da vez. Destaque nos eventos Old Schools, Este competidor da categoria Gran-Master nos conta sua trajetória no skateboard, o trabalho com sua marca e sua visão do futuro do skate no Brasil, Old Schools Skate e seus segredos pra continuar em cima do carrinho.
por Paulo Costa
fotos; Aquivo pessoal e Diorandi.com

Como foi o começo no skate?
Meu inicio no skate foi em meados de 83. Viajava com os meus pais com muita frequencia para casa de meus tios em Campinas e meu primo tinha um Skate Bandeirante nessa época.
Eu pegava o carrinho dele e ficava descendo a rua que eles moravam.

Lien Air sobre o cotovelo.Top Sport.80’s

Qual o primeiro skate e as lembranças do início?
Meu primeiro skate era bem modesto, de uma loja de São Paulo. Bem coisa dos anos 80 mesmo. Naquela época, vendiam-se os skates completos com a marca das lojas. Isso foi em Julho de 1986. Meu Primeiro skate foi um shape Pontência (model igual ao Caballero), eixos Axxion e Rodas Axxion. E pro meu desespero, uma das rodas estava com defeito de fabricação e não durou 1 semana. Acabei trocando uma roda com um amigo e fiquei com 3 rodinhas grandes (novas) e uma minuscula no skate. Foi engraçado…Eu já tinha sido “contaminado”pelo gostinho ao ter o primeiro contato com o skate através do meu primo, quando ganhei o meu, anos depois, skate era uma febre. No meu bairro tinham mais de 30 moleques e nos encontrávamos na casa dos meus pais para andarmos juntos. Era tudo novidade, usavamos o skate pra nos deslocarmos a todos os lugares. No meu bairro tinha um pessoal mais velho que também andava. Essa galera além das jump ramps, construíram um quarter-pipe de compensado na rua onde moravam. Era o POINT da nossa época. Ver o pessoal mais velho andar no quarter e aproveitar pra dar umas brincadas também. O ruim da época era o preconceito das pessoas que não andavam de skate. O skate era marginal, era considerado um esporte de maloqueiro, mas, Graças à Deus essa imagem ficou bem lá atrás. Lembro-me de nos reunirmos em minha casa, fabricarmos as jump ramps e ficarmos o domingo inteiro falando de skate. Tinha também o bairrismo, onde tinham grupos rivais nos bairros proximos a minha casa. Era engraçado, pois a galera não se misturava e havia uma competividade extrema. Saudosismo total. Fiz grandes amizades nessa época.
Além do jeito de se vestir, roupas super coloridas, um tênis de cada cor, muito engraçado. rssssss

Crail Slide.CEU Veredas
Com quem andava?
Basicamente com os meus amigos. Depois da primeira fase, começei a praticar mais street e acabei pegando meu primeiro patrocinio em 1988. Em seguida, comecei andar numa mini rampa da antiga FlyWalk. Lá conheci alguns de meus grandes amigos, Renato Cabbalero e Marcelo Tchelo. A Fábrica ficava à 300 metros da minha atual residencia, e a aproximadamente 3 KM da casa de meus pais, onde eu morava. Lembro-me que eu e um amigo iamos remando até lá pra andar no famoso “mini-half” (rssssss). Nessa época eu me dividia entre a mini-rampa da Flywalk, Sessões em São Bernardo do Campo e as sessões da praça Roosevelt escondidas devido ao prefeito Jânio Quadros proibir todo mundo de andar de skate na rua…Pois é, existiu repressão policial nessa época e skate era considerado ato de vandalismo.
Em seguida, abriu a Top Sport, onde descobri o banks em forma de 8. Cheguei a ter apoio da CAOS, na época a equipe mais punk da galera do Banks. Formada pelos pros Álvaro Por quê?, Bruno Brown, Salada e Marcola e os amadores Mauricio Chileno, Rodrigo Menezes e Eu. Além do Coruja no Downhill. Foi uma época de ouro…Nessa época eu já conheci com o meu maior amigo, Ricardo Lester, hoje dentista em Portugal, mas continua andando por lá também.
Na Top Sport andávamos eu, Lester, Digo, Marcola, Renato Caballero, Ragueb Rogério, Waguinho, Tchelo, Chileno, Cesinha Lost, e sempre apareciam por lá pra sessão, Álvaro Por quê, Bruno Brown, Fábio Bolota, Ari Bason, Masterson Magrão, Cesinha, entre tantos outros.
Durante o tempo que a Top Sport ficou aberta, nos internávamos aos finais de semana da hora que abria até o ultimo minuto, pois eu já trabalhava além de estudar e só podia me dedicar ao carrinho nos finais de semana.

Quais eram os picos?
Os picos mais legais que conheci e tive oportunidade de andar foram a Top Sport, Paço Municipal de São Bernardo do Campo, Praça Roosevelt, Mini rampa da FlyWalk e Ladeira da Morte e Pico do jaraguá pra fazer downhill.

Tuck Knee em uma Jump nos 80’s

Quais patrocinios já teve?
Quando garoto meu primeiro patrocínio foi de uma marca de Shape chamada ATAQUE EPILÉTICO. O Proprietário da marca era muito gente boa. Onde vc está Fidelis????? Foi ele que me apoiou na minha primeira competição de street em 1988. Posteriormente, já na modalidade de banks tive patrocinio da The Wall, marca de um grande amigo meu chamado Cesinha e em seguida um apoio da CAOS shapes do Marcola.
Na fase mais atual, a Gardhenal de Ragueb Rogério me deu a oportunidade de ter um apoio novamente, em seguida foram somadas as marcas Balboa Boards e Sick Mind.
Quais skaters te inspiravam no ínicio?
Até hoje me inspiram muito, Hawk, Hosoi, Lance Mountain, Steve Caballero, Chris Miller, e depois de ver streets on fire da Santa Cruz, Jason Jessee, Corey O’Brien, Jeff Grosso, e o inesquecivel Natas Kaupas.
Dos skatistas brazucas, Álvaro Por quê, Claudio Secco e Mauro Mureta foram referencias pra mim nos anos 80. Além da admiração que tenho por vários skaters que foram ícones dos anos 80 e que tenho amizade, como Ari Bason, Cláudio da Selva, Luciano Kid, Paulinho Rude, Sérgio Negão, Lincoln Ueda, Digo Menezes, Ragueb Rogério, Mauro Mureta, Geninho, Wilson Ito, etc.

Com Yndyo(a esquerda) e amigos

Quais os melhores Skaters Brasileiros na sua opnião?

Atualmente Rodrigo Digo Menezes, Lincoln Ueda, Edgar Vovô, Pedro Barros, Dan Cesar no vert e Street Rodolfo Ramos (Gugú), Wagner Ramos, Diego Oliveira, Lucas Xaparral, Ragueb Rogério, Klaus Bohms, Thiago Ribeiro, Marcelo Formiguinha, Piolho, Gian Nacaratto, Fabio Chupeta, Diego Korn, Guilherme Okamoto, etc.
E gringos?
Atualmente no Vert/Bowl os melhores são Al Paternen, Darren Navarrete, Omar Hassan, Danny Way, Rune Glifberg, Pierre Luc Gagnon, entre outros.
No Street: David Gravette, Steve Reeves, Dustin Dollin, Tony Trujillo, Geoff Rowley, Chris Cole, só pra citar alguns.
E hoje, que está nas sessions com você?
Meus amigos de sessão são: Ari Bason, Darcio Lekuc, Marcelo Testa, Masterson Magrão, Emerson Lobão, Douglas The Flash, Flávio Pi, Marcelo Pili, Henrique Polenta, Demian Coleto, a galera da Gardhenal entre outros.

Top Sport. Adnan, Ricardo Lester, Marcelo Tchelo e Digo Menezes, Na Plataforma da Mini ramp, Fábio Bolota e andando na Mini Ramp, Ari Bason.80’s.

Com tantas opções de pistas em SP, essa é a melhor fase do skate ai?
Acredito que sim, hoje temos muitas opções para andar, mas infelizmente a qualidade das pistas existentes hoje são imensamente inferiores as dos anos 80.
Antigamente tínhamos poucas pistas para andar mais eram bem melhores que as atuais. Não sei se o nível de exigencia era menos, mas essa foi é a impressão que ficou.
Você é atuante no skate, da uma foirça pro desenvolvimento?
Fiz todo um planejamento para a construção de uma mini-rampa na rua onde morava com os meus pais, conseguimos a autorização da prefeitura e até recebemos o material para a construção, porém quando esse material chegou, não apareceu ninguém para ajudar na construção. Virou lenda.
Quem se destaca entre os legends Brasileiros hj na sua opnião?
Come-Rato é muito style, tem um skate fluído, bonito de ver. Gosto muito do Cássio Narina, parece um garoto de 20 e poucos anos andando. Ari Bason tá andando demais, seu skate deu um salto no ultimo ano, está mesclando manobras técnicas com a fluidez do Banks. Além de Jorge Zunga e Juarez que também estão andando muito. E não posso esquecer dos Guará Boys Nando Tassara, Yndio Tassara e Junior que anda pra caramba, parecem moleques.

Fs.Air no extinto Billabong.

Como vc vê o reconhecimento dos legends hoje pelas marcas, mídia e etc? Há apoio aos desta categoria?Infelizmente o skate no Brasil não tem o mesmo apoio que nos EUA. Obviamente pela dificuldade financeira das marcas aqui no país. Não há um investimento pra manter um legend vivendo do skate. Eu agradeço muito às marcas que me apoiam, pois é uma exceção. Mas patrocinio acho muito dificil conseguir sendo um grand master ou legend. A Midia cobre os eventos e eventualmente lança alguma materia sobre os legends, mas ainda é muito raro.
Os eventos que rolam são boms?
Boas mesmo são as vibes que rolam em alguns eventos como Guará e Swell.
No demais, vamos aos eventos pra ver os amigos, darmos boas ridasas e tentarmos nos superar a cada evento. A infra estrutura para os eventos feitos aqui em São Paulo são muito amadoras, não há uma preocupação com cronograma e bem estar dos participantes.
Você já anda a bastante tempo, tem um bom nível de skate, na década de 80/90 fez parte de boas equipes, mas, não ouvíamos falar muito em você. Como é isso? Conta um pouco de sua carreira no skate.
Tive altos e baixos no skate como na vida. Já tive um alto nível no street também, quando peguei meu primeiro patrocinio. Mas me decepcionei com os campeonatos que corri na época, pois foi escancarado. Tinha nivel para ser finalista em alguns e sequer passei da triagem. Isso me fez abandonar de vez de campeonatos de street. Posteriomente, já na época de Banks, estava andando muito com o Digo e meus amigos na Top Sport e, faltando uma semana para o campeonato, torci meu pé aprendendo a dar Mid Air no banks. Acabei desencanando de campeonatos e continuei andando for fun somente.Por esses motivos, não me profissionalizei e não fazia questão nenhuma de correr campeonatos. Tinha um lado meio rebelde e não aceitava algumas coisas. Por esses motivos eu me recusava a correr qualquer tipo de campeonato.

Sobre o spine no CEU Veredas.

Vc tem uma skateshop. É uma marca também?
Exatamente. No ano passado, abri uma distribuidora com mais 2 sócios, mas por falta de empenho e visão dessas pessoas para um investimento direto no esporte, saí da sociedade e montei a minha distribuidora, a voodooskates.com. Com a crise do dolar no ano passado, meus negocios se tornaram inviáveis para o atacado, pois, como não tinha estoque, não pude repassar todos os custos diretamente no atacado e resolvi montar a minha propria loja.
Com importação direta, consigo praticar preços melhores e definir pessoalmente onde investir o capital. O Planejamento é para a VoodooSkates.com virar uma marca ainda esse ano. Já estamos elaborando testes de produção de confecções e em breve lançaremos os models de shapes da marca. Todo esse planejamento esta sendo feito com cuidado, para não pecarmos na qualidade. É um processo lento, mas está caminhando. Além disso tudo, estamos fechando uma parceria com uma marca européia para representar aqui no Brasil. São produtos de excelente qualidade e que chegarão ao Brasil com um custo acessível.
VC tem ou pretende ter uma equipe, apoiar skatistas…
A ideia de abrir a loja foi justamente pra fomentar o esporte. Além é claro do business, tenho a intenção de montar uma equipe num futuro próximo. Já apoio alguns skatistas, mas quero sim poder fazer algo mais num futuro próximo.
Ainda anda de street? E outras modalidades?
Andei muito de street, mas hoje não mais. Tive uma breve passagem pelo vertical também, mas depois de muitas lesões e o fechamento da Feel It e Skate House (half-pipes que tinham em SP), parei com o Vert e voltei ao banks e mini ramp. De vez em quando ando em alguns bowls como foi na Swell esse ano. Pratiquei Downhill tb quando garoto.
Como faz pra manter o rip? Segue algum esquema de treino ou pratica algum esporte…Academia…
Nada. Cerveja, cigarro, rock’n roll e skate. Rssssssss
Daggers life!!!
Vc se da bem nas competições. Gosta de competir e se empenha realmente ou da seu role sem pretenções e vê a consequencia?
Gosto muito de competir. Acho que o campeonato serve pra analisarmos os nossos pontos fortes e aprimorarmos nossos pontos fracos. O que mais gosto em uma competição é a superação individual de cada competidor. É legal de ver as pessoas evoluindo e melhorando a cada etapa.
Sempre me empenho nos campeonatos, mas não importa a qualificação final. Não tenho compromisso com nenhuma com relação à resultados, e isso me favorece, pois não há nenhum tipo de pressão. Com 37 anos, o importante é não se machucar. O resto é pura diversão.
Que tipo de som vc prefere?
Gosto de Rock’n Roll, mas escuto de vez em quando Cypress Hill e algumas outras coisas tb.
Entre os sons preferidos posso citar: SNFU, Gallows, Spits, Bloc Party, Interpol, Turbo Negro, Arcade Fire, The Melvins, Onde Day as a Lion, Pailhead, Wipers, enfim, rock pra todos os gostos.
Quais os melhores picos em Sp hj na sua opnião?
Sem duvida nenhuma a Ultra é um marco no skate do Brasil, a primeira piscina de verdade pra andar de skate. Gosto muito da Pista Pública da Sumaré, que, apesar de pequena e irregular, da pra brincar bastante. Tem uma mini rampa secreta que conhecemos que tem 2 de altura, por 10 metros de largura e 2,30 na extensão que é muito legal também, mas a minha preferida mesmo fica fora da cidade de São Paulo, é o banks do Itagurá Country Clube, situado em Guaratinguetá e tem o Old School anualmente. Na minha opinião é a pista perfeita.
Conhece algo sobre o skate no Nordeste?
Infelizmente só fiz 2 viagens para o Nordeste, um turismo em Fortaleza e o sul do Maranhão a trabalho. Espero em breve conhecer mais. Estou tendo muito contato com o pessoal de Pernanbuco esse ano. Conheço o Roberto da Myllys e estamos desenvolvendo um projeto juntos em São Paulo.
E em outros cantos do país?
Morei em Curitiba (um frio insuportável. Rsssss) e conheço pouco do Rio.
Ano retrasado fui pra Florianópolis e este ano fui para Porto Alegre.
Qual seu tipo de manobra favorita? Borda ou Air?
Sempre gostei mais dos Aéreos. .
Dessa vez atacando o spine voando de back.

Chegou a se afastar do skate durante todos esses anos?
Parei de andar 2 vezes. A primeira durante a crise dos anos 90. Acabaram as pistas, não havia mais onde andar e acabei casando. Depois no final dos anos 90 quando estava trabalhando demais e precisei parar de andar. Depois de 2004 não parei mais de andar.
Vc é daqueles que acompanha sempre revistas de skate, eventos no Brasil e fora pra ver quem está nas cabeças, como tá se desenvolvendo o meio…
Costumo acompanhar os eventos tanto no Brasil como fora do pais. Hoje em dia a nova geração é privilegiada, pois podemos ver os eventos em tempo real pela internet. A informação está muito dinâmica atualmente e facilita muito pra quem quer buscar conhecimento.
Como voce vê nos próximos anos o desenvolvimento do skate old school no Brasil?A minha geração (anos 80) está muito envolvida no processo empresarial do skate no Brasil. Esse fato contribui muito para o fortalecimento do Old School pelo respeito aos idolos do passado. Se essa geração continuar a ter o respeito que temos pelos nossos idolos do passado, a tendencia é que o old school venha pra ficar e não seja apenas uma onda passageira.Como voce vê nos próximos anos o desenvolvimento do skate old school no Brasil?A minha geração (anos 80) está muito envolvida no processo empresarial do skate no Brasil. Esse fato contribui muito para o fortalecimento do Old School pelo respeito aos idolos do passado. Se essa geração continuar a ter o respeito que temos pelos nossos idolos do passado, a tendencia é que o old school venha pra ficar e não seja apenas uma onda passageira.

Dá pra imaginar o “plá” no coping.Madona.
Considerações finais:
Obrigado a Veteran pelo espaço disponibilizado aos “tiozinhos” do skate brasileiro.
Agradeço também aos meus apoios: Sick Mind, Gardhenal, Balboa Boards, e Voodooskates.com
Muito obrigado aos amigos que me suportam e me dão o suporte necessário nas horas de dificuldade. Aos meus amigos fiéis Lekuc, Ari Bason, Masterson Magrão, Marcelo Testa, Emerson Lobão, Douglas The Flash, Demian Balboa, Rogério Lemos, Ragueb Rogério, Maurício Moreira, James Bigo, pelo apoio e principalmente pela amizade. Aos Brothers Rogério Balieiro pelas filmagens, à Revista Tribo pelo respeito mútuo, à revista 100% pelas fotos publicadas, ao Marcelo Mug pela fraternidade, e a todos que fazem parte da minha roda de amizades. Agradeço principalmente aos meus pais por serem os heróis da minha vida, e quaisquer palavras serão poucas para demonstrar o quanto amo vocês.Obrigado a minha filha pela companhia e a minha irmã pelo apoio. Valeu Didi pelas fotos. Valeu Junxs pela fraternidade.
E agradeço principalmente a Deus por permitir que meu pai tivesse me presenteado com um skate. Deus sabia que esse esporte mudaria a minha vida. Fiquem em paz, andem de skate sem preconceitos com rótulos e principalmente, tratem o skate com respeito e ele correspoderá.


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