ETRVST: Batman

12-07-2020

por Paulo Henrique Costa

Fotos: Arquivo pessoal de Joelcio Batman

 

 

Joélcio Batman é hoje uma lenda do skate do Norte (e porque não Nordeste) brasileiro. Skatista destemido que sempre se destacou nas sessões e competições, chegando assim ao profissionalismo, onde conseguiu conquistar o seu lugar no cenário nacional. Aos 50 anos, Batman continua forte nas sessões e colaborando com o skate. Conheça um pouco mais desse apaixonado skatista nas próximas linhas.

 

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Joélcio Araújo Pantoja da Silva, 50 anos. Belém – Pará

 

 

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Aquela clássica pergunta; como começou a sua história com o skate e qual foi o seu primeiro?

Complicado, andava sozinho, aprendia tudo olhando as revistas da época, fiz minhas próprias rampas e assim fui desenvolvendo minha forma de andar. O primeiro skate foi um Bandeirante. Shape de compensado, modelo igual um corpo de violão (rsrsr), rodas de acrílico preta com bilhas e trucks pequenos de ferro.

Quais os parceiros de sessão naquela época?

Uns garotos do meu bairro, mas eles andavam por andar, como brincadeira… Eles não levaram a sério como eu levei, tanto é que todos pararam e só eu continuei.

 

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Você tem 5 Skates. Qual o set deles?

São pra modalidades diferentes (freestyle, street, old school e um longboard) e todos com peças importadas e nacionais de qualidade… Trucks Independent, Thunder, Caliber e FLH. Rodas Bones, Powel G- bones, Spitfire e Moska… Shapes Plural, Real, Wood Litgh, FLH. Rolamentos todos Bones SuperSwiss. Essas são as peças dos skates que tenho.

Quais skatistas te inspiraram, brasileiros e gringos que você gostava e gosta de ver o Skate deles?

Dos gringos Matt Hensley, Natas Kaupas, Jason Lee, Mark Gonzales, Danny Way, Pat Duff. Brasileiros; Fernandinho “Batman”, Daniel Trigo, Beto Or Die, Marcos “robô”, Nelson “Cão” e Mauro Panhol.

Quais Skatistas da sua geração no Norte/Nordeste que você admirava?

Norte: Marcos “Robô”, Nelson “Cão”, Mauro “Panhol”, Elierson Silau “Mickey”, Beto Japonês e Tony.

Nordeste: Charles Reginaldo, Zé Wellington, Adelmo Jr, Alexandre Gato e Ilzeli Confessor.

De onde vem o apelido Batman?

No final da década de 80, frequentávamos muito a Ilha de Mosqueiro, uma ilha de água doce que acredito que seja um dos únicos lugares do mundo onde é surfável, que tinha um Half Pipe de frente pra praia, uma Micro Ramp dentro de um prédio abandonado que ficava de frente pra praia num pico onde a galera surfava. Andávamos na mini e a galera surfava bem na frente, quando terminava a sessão todos iam pra um pico que chamava Carramanchão no calçadão da praia, era ponto de encontro das tribos do surf e skate, eu por vez, me inspirava em um dos melhores skatistas do Brasil da época, o Fernandinho Batman e costumava me vestir igual, pois tinha ele como ídolo. Num dos fins de tarde no Carramanchão, um das caras que ñ sabia meu nome começou me chamar de “Batman” no meu da galera, todos ouviram, e como a maioria não sabia meu nome, adotou o apelido e começaram a me chamar por Batman, ai se sabe né, quando todos começam a chamar, difícil reverter e ai ficou Batman de 1988 até hoje. Não fiz isso, não foi proposital copiar o Fernandinho Batman, mas alguém tornou isso possível. Eu por min não copiaria o apelido de um ídolo meu, mas já que colocaram esse apelido me sinto honrado, pois ao menos é um apelido de alguém que eu sempre admirei e admiro até hoje!

 

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Como você começou a competir e qual a sua visão sobre competição e campeonatos?

Minha entrada nas competições foi na categoria iniciante, no meu primeiro campeonato fiquei em 2º lugar e dai pra frente não parei mais de competir. Continuo competindo até hoje.

As competições tem uma importância muito grande pro esporte seja ele qual for e pro skate não seria diferente. A cena ganha fôlego, competições ajudam a fomentar o mercado, reúne skatistas, formam novas amizades, podemos encontrar amigos e fazer novos, o skate ganha novos adeptos, simpatizantes e faz o mercado girar novamente.

Você chegou a competir em outras regiões fora o Norte e o Nordeste?

Sim. No Sudeste e Sul, nas cidades de Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro.

Como vocé chegou ao profissionalismo no skate?

Fui atleta da marca Formula por um tempo como amador, na época, eu estava em Sampa na pronta entrega da Formula, tinha ido pra Sampa pra tentar a profissionalização. A Formula recebeu um convite para enviar atletas para uma demo em Manaus, eu estava no local certo na hora certa (rsrsr) o dono da marca perguntou; “você não quer ir fazer essa demo como pro pela marca?”… Topei na hora e fui. Depois que voltei de lá, surgiram os campeonatos na cidade de Sobral no Ceará, onde eu corri umas etapas e tive minha profissionalização oficializada pela CBSK. Na época a CBSK não tinha comissão avaliadora para se profissionalizar e posso dizer que era mais fácil entrar, pois, hoje está mais difícil virar Pro. Depois disso, lancei uma marca de shapes (ACID SKATEBOARDS) aqui em Belém junto com um amigo chamado Toninho. A marca vingou e lançamos meu Pro Model e tudo se encaminhou muito bem.

Que acha do skate nas olimpíadas? Acha que vai contribuir positivamente pro Skate?

O skate nas olimpíadas de certa maneira, é positivo, pois o mundo pode ver o lado profissional e competitivo do esporte, e assim, acho que vai contribuir positivamente sim, pois dará oportunidades a mais skatistas de viverem do Skate e terem mais visibilidades.

 

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Tipos de manobras você mais gosta?

Antes gostava de descer corrimão grandes, gaps, escadas e drops grandes… Hoje gosto de andar em bordas de rampas, Banks, Halfs, Mini Ramps e Bowl. Manobras como Smiths, Tails Slides, Nose Grinds e Crookeds.

Existem skatistas que gostam mais de manobras técnica e outros são mais rasgadores. Como você definiria seu Skate?

Não gosto de me definir nesse aspecto, gosto de coisas desafiadoras que ninguém tenha feito, no meio disso tem técnica e agressividade, entendeu? Posso me definir as duas coisas ou mais!

Como anda o Skate na sua região?

Sobrevivendo aos trancos e barrancos, levado nas costas pela geração Old School como na maioria das regiões e cidades do Brasil.

Qual sua relação com a parte organizacional do skate?

Toda! Sempre estive envolvido disputando, organizando eventos, projetando pistas etc. Sempre gostei de me envolver e ajudar a fortalecer, já tive uma escolinha de skate em um projeto com a prefeitura local. Já estou a 17 anos ajudando direta e indiretamente nos projetos da Federação Paraense De Skate, etc.

 

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Você tem um filho que anda de Skate e compete. Conta um pouco sobre essa relação família e skate…

Sim tenho, ele está com 17 anos, anda de skate desde dos 3 anos de idade e o skate dele já estava montado quando ele ainda estava na barriga da mãe (rsrsr). Aos 4 anos eu já o levava pra andar comigo em todo tipo de lugar, com 5 anos ele já estava numa evolução incrível, ensinei tudo que sabia pra ele… O tempo passou e ele se tornou um skatista técnico e estiloso, tenho muito orgulho dele como skatista e ser humano, um grande filho e companheiro, um cara suave que nunca me deu trabalho e sempre foi bem nos estudos… Está fazendo um convênio e estamos torcendo pra que ele ingresse numa faculdade federal ou estadual. Ele vai conseguir, pois tem visão e é focado.

A nossa geração e as anteriores tinham muitas dificuldades com informações, produção de imagens… Somos de uma época que só através das revistas tínhamos acesso aos grandes skatistas e hoje vivemos um mundo sem fronteiras, praticamente. Como você vê essa realidade?

O mundo mudou de tal forma, que hoje as dificuldades no mundo do skate são mínimas… O mercado é vasto, muitas marcas, a qualidade de alguns materiais nacionais é outro, tudo mais bem produzido, com uma melhor tecnologia e de boa qualidade. As redes sociais estão a disposição de todos à palma das mãos para ver tudo que acontece no mundo e também poder divulgar trabalhos, produtos de cada marca ou skatista.

Você acha que nossa geração e as anteriores tinham mais amor pelo Skate ou isso é falácia, um exagero?

Isso é relativo, pois são situações distintas. É certo que existia muita paixão e amor pelo que era feito, como existe até hoje (rsrsr), Tudo foi muito difícil pra nossa geração, passamos por todas as dificuldades e intempéries e sobrevivemos Hoje tudo mudou pra melhor, as dificuldades são menores, tudo ao alcance, com a internet pra ajudar em tudo, mas isso não quer dizer que também não exista dificuldades, amor e paixão com menos intensidade. São tempos diferentes, porém com os sonhos parecidos.

 

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Qual sua relação com redes sociais, grupos etc?

Intensa! Tudo que faço passa pelas redes sociais, forma de expressão, ganhar dinheiro, relação com amigos ou novas amizades e divulgação de tudo que produzo ou faço no skate ou fora dele… Sem as redes sociais é como dizem os Racionais Mcs “Quem não é visto não é lembrado”!

Com que frequência tem andado de skate e como é manter o nível do skate após os 50 anos?

Hoje tenho andado umas 2 ou 3 vezes por semana… Bem, manter o nível de skate após os 50 não é fácil, corpo fica menos ágil, você tem os afazeres de pai de família, então, quando sobra tempo, tira os dias pra andar. Tem que fazer aquele alongamento pra não ter problemas musculares e surge uma certa limitação em algumas coisas, mas da pra manter o role em dia numa boa.

Na sua opinião, o mundo pós Covid 19 mudará algo com relação ao estilo da vida do Skate?

Sobre o pós Covid, acho que tudo continuará como antes. Já passamos por varias pragas, vírus, testes… Estamos de pé, isso faz parte das coisas que acontecem no mundo, não é a primeira e nem será a ultima. É certo que a humanidade ficará mais receosa com certas coisas, mas, vida que segue.

 

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Você daria algum conselho para quem está começando e para aqueles que pretendem se profissionalizar?

Bom, para os que estão começando eu diria para se divertir acima de tudo andando de skate, pois tudo começa como diversão. Se algo tiver que acontecer (patrocínios, etc.), irá acontecer quando menos se espera.

A profissionalização hoje em dia ficou bem mais concorrida, que posso dizer pra quem tem esse sonho de fazer parte de mundo, é não desistir, estar sempre na hora certa e no lugar certo para que tudo se encaixe, e o principal, só tentar procurar perceber quem tem condições pra tal, pois do contrário melhor nem tentar pra não acabar sendo só mais um no meio de tantos, pois viver de skate não é pra todos!

Suas Palavras finais…

Agradeço a oportunidade de fazer parte desse projeto, muito obrigado, skate é diversão, amizades, viagens, eventos, revistas, vídeos, festas e felicidade de fazer parte… Faça tudo sempre com amor e diversão, se tiver que acontecer será de forma natural, pois todo esforço tem suas recompensa!

 

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