Alex Kid Amaral: Natal Skate 90s
por paulo costa
fotos acervo Alex Kid Amaral
Em uma época de baixa no skate em todo o mundo, aconteceu uma transição de atores… Skatistas, fotógrafos, filmadores, revistas… Música. Início dos anos 1990. Quem viveu sabe!
Em Natal, Alex Kid surgiu inicialmente como um dos skatistas da nova cena do street natalense. Paralelamente passou a dar visão a caras como Robertinho Cavalcanti, Djalma (RIP), Salomão Dantas, Taboquinha, Gogo Flip, Raphael Majei, Claudemir Kbcinha e Lúcio ceguinho, entre outros não menos importantes, através dos seus trabalhos de mídia naquela época, onde Alex contribuiu pro crescimento do skate local e nordestino. Por tabela, registrou como poucos ou quase ninguém uma fase importante pro skate local contando com um acervo pessoal de grande importância pra nossa história.
Alex Amaral
43
Skate desde os 17
Jornalista
Casado com Sheila Amaral, pai de Yan & Yuki
Como surgiu esse seu interesse por fotografia e comunicação voltado para o skate, ou melhor, para os esportes radicais?
Bom, eu cresci, praticamente, dentro de uma redação de jornal. Meu pai é artista plástico, jornalista e fotógrafo, foi redator, chargista, editor e diretor de jornal. Lembro-me, quando criança, de viver correndo pela oficina de impressão, redação e corredores do jornal que meu pai dirigiu no Acre. Brincava com os tipos móveis (letras em chumbo para impressão) que existiam na época, com recortes de jornais, fotografias, enfim, respiro jornalismo desde bem pequeno.
Aos 17 anos resolvi fuçar em um programa de diagramação e consegui fazer uma página de jornal com texto, fotos e todos os elementos gráficos necessários. Já sabia fotografar razoavelmente, pois praticava um pouco com a máquina do meu pai. Foi o que precisava pra colocar minhas ideias em prática. (risos)
Quais os veículos que passou e produziu nesses anos todos? Lembramos bem da Revista Independente e uma bem antiga chamada Style Man, se não me engano. Houveram outras? Fale um pouco mais pra gente.
Não foram tantos, mas me deram grande satisfação em desenvolver e trabalhar. O primeiro foi um zine chamado “Street Trash”, no ano de 1991, de posse de uma máquina fotográfica amadora emprestada e o apoio moral do meu parceiro de skate na época, Salomão Dantas, que me incentivou a seguir em frente. Foram 3 ou 4 números lançados, depois ficou complicado imprimi-lo devido aos custos na época. Já em 1997, resolvi voltar às publicações voltadas para o skate e lancei a Revista Style Man, em tamanho maior, fotos grandes e com mais páginas, porém ainda em preto e branco. Mais uma vez, consegui uma sobrevida de 3 ou 4 números lançados, até por que não é nada fácil fazer tudo sozinho e ainda distribuir gratuitamente a publicação.
Mas quem disse que desisti? (risos) Todo esse tempo como amador e já insistia nisso, então entrei na faculdade em 2000 e ao concluir o curso em 2004, passei a integrar a equipe da Qix Internacional, escrevendo e fotografando profissionalmente para a marca de skate do Rio Grande do Sul. Pouco tempo depois, fui convidado a escrever e fotografar para a Myllys, maior marca de skate do Nordeste, onde passei um bom tempo trabalhando. Foram várias matérias, entrevistas, viagens, coberturas de campeonatos, sessões de fotos, inaugurações e eventos voltados ao carrinho.
Em 2009, a vontade de ver o skate da nossa região ainda mais divulgado, decidi retomar a ideia da publicação impressa e lancei a Revista Independente. Em formato A5 (meio ofício), ela era preto e branco, grampeada e trazia assuntos ligados ao skate, bodyboard, música e outros esportes. Logo no segundo número, já ficou toda colorida e ganhou mais páginas. Fomos até 2011 com esse projeto e mais uma vez, ficou inviável fazer tudo sozinho e ainda distribuí-la gratuitamente. Mas cumpriu bem o seu papel enquanto existiu. Até hoje as pessoas me perguntam se a Revista Independente vai voltar a circular, eu digo: “quem sabe, né?”. (risos) Seria um sonho bom e prazeroso retomar esse trabalho.
Você continuou andando de skate e produzindo sobre ele mesmo após o casamento e dois filhos. Como é essa relação emocional com o skate? E o apoio da família?
Realmente, foi uma transição complexa, mas no final se tornou simples. É que me casei bem jovem ainda e tinha o skate como prática diária. Foi impossível me desvencilhar do carrinho pra me dedicar 100% ao casamento e a família. Então resolvi levá-los comigo pras sessões. Lembro-me de ir pra Ponta Negra de ônibus com a mulher e meu filho, de colo ainda, pra andar no Marina Roller. Voltava com os braços formigando, trazendo meu moleque dormindo nos meus braços do Alecrim até minha casa nas Quintas. (risos) A esposa desistiu de pedir pra parar de andar de skate, até por que eu conheci o carrinho antes dela. (risos) Chegou a um ponto em que a pressão também vinha dos meus pais pra dar um tempo no skate, foi então que me passei a me dedicar ainda mais e tracei a meta de trazer resultados positivos dos campeonatos pra casa, pra eles verem que o negócio era sério. E funcionou! Mas pra mim era como uma maldição, tinha que levar um troféu, nem que fosse de quarto lugar, pra dar uma satisfação em casa. (risos) Foi bom por um lado, pois meu nível no skate subiu bastante devido a minha dedicação e estratégia de competição. Cheguei a ficar em 3º lugar numa etapa pernambucana em Recife na categoria Amador I. Até hoje tenho um galeria de troféus em casa e cada um com uma boa história pra contar. Depois que parei de competir, passei a ser um profissional do skate e mantive meu estilo de vida cobrindo eventos dentro e fora do Estado, mantendo contato com meus amigos de outras cidades e vivendo a vibe do skate até onde pude ir.
Naquela fase difícil pro skate surgiram muitos skatistas novos e com potencial, que continuaram elevando o nível. Você citaria alguns que te chamavam mais a atenção?
Lembro-me dos parceiros de session. Negada cabreira que tinha nível gringo e andar com eles sempre era uma experiência bacana, pois puxava o nível de todos pra cima. Só pra citar alguns nomes, pelo menos no street, onde tenho mais domínio, Rafael Majey, Sérgio Morcego, Salomão Dantas, Jeedsoney Gogoflip, Lúcio Ceguinho, Robertinho Bodegues, Ricardo Coringa, Rômulo Anjinho, Roosevelt Galego, Claudemir Kbcinha, entre outros. Depois surgiram novos talentos em várias partes da cidade, em Ponta Negra, Cidade da Esperança, Alecrim, Zona Norte. Citando alguns nomes da nova geração, destacaria Lucas Seleguini e Pedro Xexa em Mossoró, legítimos representantes do skate potiguar dentro e fora do Estado. Mas tem mais gente boa no RN, só não arriscaria citar todos, pois posso esquecer alguém.
Você participou da elaboração da APS há 12 anos, se envolvendo também com a organização do skate. Fale um pouco sobre essa fase…
Foi uma fase importante na minha trajetória dentro do esporte. Depois de conhecê-lo do ponto de vista do praticante, depois competidor e logo após como profissional do skate, foi a vez de me dedicar a organização de eventos e entidade representativa. Junto com a galera das antigas, criamos a APS (Associação Potiguar de Skate), da qual você também fazia parte e uma rapaziada já madura e bem responsável. A ideia era movimentar o carrinho que andava muito parado, mapear onde havia praticantes na cidade e no Estado e incentivar as competições que há algum tempo não rolavam. Criamos um site, desenvolvemos estatuto e cadastramos os praticantes que tivemos acesso. Cobríamos os eventos, as sessions e publicávamos tudo no site da Associação. Conseguimos dar um UP no skate potiguar e a partir dai surgiram outras iniciativas interessantes. Infelizmente, os afazeres e a luta cotidiana me distanciaram um pouco desse trabalho, mas até onde estive presente, tive oportunidade de contribuir dando o meu melhor naquele momento.
Como anda seu contato hoje com o skate?
Hoje em dia me divido entre duas cidades, Natal e São Miguel do Gostoso (litoral norte). Aqui em Gostoso faço parte de uma ONG, onde ministrei aulas de fotografia e jornalismo, cheguei a ser coordenador da entidade entre 2012 e 2014. Nessa época, implementei várias novidades como um programa de rádio semanal na cidade, informativo impresso, gerenciamento de conteúdo pra internet, cinema nas comunidades rurais, entre vários outros novos projetos. Um deles foi a Oficina de Skate pra Crianças e Adolescentes. Esse trabalho perdurou por quase dois anos e tivemos o apoio da Only Skate Shop, que nos cedeu obstáculos e nos forneceu skates a preços diferenciados. As aulas aconteciam duas vezes por semana e juntava uma meninada bastante animada. Atualmente, ando de skate aqui em Gostoso pra me divertir, quase sempre aos finais de semana. Mas sempre que a meninada me vê, corre pra fazer a sessão comigo. (risos) Sempre ando com 3 ou 4 skates no carro, já prevendo a chegada dos alunos e dos amigos que aprenderam a amar o carrinho na cidade tanto quanto eu.
Quais seus projetos atuais?
Atualmente edito uma revista gastronômica na cidade chamada Paladar Gostoso. Ela é bimestral e tem distribuição gratuita. O foco principal é a gastronomia local, mas trabalhamos também fortemente o turismo, que é um dos pilares econômicos do município. É um trabalho árduo, porém bastante gratificante. Estou em Gostoso desde 2010 e acredito que não irei embora tão cedo. Depois que você bebe a água da cidade (que nem é tão boa assim kkkk), você não quer mais ir embora. Só Froid explica. (risos)
Skate até quando?
Certa vez enviei uma carta para a Revista 100% e foi tão bem aceita pela redação, que publicaram e ainda ganhei uma assinatura anual. Lembro-me bem do título que dizia: “Até quando as pernas aguentarem”. Falava sobre as minhas seguidas lesões que sofri no joelho e tornozelo praticando o esporte e das minhas voltas ao skate, cada vez mais motivado. Enfim, encerrava afirmando que andaria de skate até quando as pernas aguentarem e acredito que essa é a resposta exata pra sua pergunta. (risos)
Deixe um recado pra nós…
O skate é um esporte mágico. Através dele conhecemos lugares, cidades, picos diferentes e fazemos amizades verdadeiras, que atravessam o tempo. É tão difícil traduzir isso em palavras, mas o nosso esforço em mostrar esse sentimento na prática aos novos skatistas é muito válido. Não há espaço para modinhas nesse meio. Quem é de verdade sempre será verdadeiro, quem é passageiro ficará para trás. O espírito de liberdade que o carrinho proporciona é algo inimaginável e viver essa sensação nos faz crescer como ser humano e cidadão. Se eu olhasse pra trás e recapitulasse todos os meus passos no skate, acredito que faria tudo outra vez, sem pestanejar, pois as experiências que adquiri e o caráter que construí em contato com o skate fizeram tudo valer a pena. Skate pra sempre!
Família Amaral
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