Bowl do Aero
por paulo costa/veteranskater
fotos acervo ilzeli confessor
Conheça a história do primeiro Bowl do Nordeste com vertical e que ajudou a desenvolver o skate em Natal por 3 gerações.
O começo
Estimulados pela febre dos patins os irmãos Carlinhos e Abacate decidem colocar um ringue de patinação no Aero Clube, já que na cidade não havia um local apropriado pra prática da patinação e tem a ideia de colocar também um espaço para o skate, então alugam a “rampa” dos irmãos Zelito e Tercílio Albano. Surge ai o Flying Rollers. A partir daí o skate começa a fazer parte da vida do Aero Clube e ali passa a ser o “pico” para se andar de skate em Natal, uma vez que a rampa dos irmão Albano não tinha um local fixo. Com exceção de Zelito, Tercílio e Ilzeli (que não pagavam pra andar), os demais skatistas tinha que “morrer” com uma graninha pra poder utilizar o “brinquedo”.
A construção do Bowl
Em 1984 com o número crescente de skatistas os irmãos proprietários do Flying Rollers, com recursos próprios, resolvem construir uma área específica pro skate, mas a pergunta era: o que, e como fazer?
Nessa época para os skaters de Natal as “rampas” (quarter pipes) eram as únicas opções de skate “vertical”, ou então chegar até a vizinha João Pessoa para andar na pista do Parque Solon de Lucena (a conhecida “Pista Podre”). Os skatistas locais foram desafiados a construir o Bowl e aceitaram.
O primeiro passo (escavação) foi dado. Edson “Bulau” Oliveira, Tercilio Albano, o cearense radicado em Natal Alexandre Gato, Martins Junior, Ilzeli Confessor, Samir Leitinho e Jessé Monstro, escavaram com o próprio pulso o “buraco” para início das obras. “Nós não tínhamos muitas informações, nem um projeto, então, algumas fotos do Bowl de Guaratinguetá ajudaram a ter uma ideia de como fazer”, Diz Ilzeli.
Na finalização, o coping era o grande desafio. Edson Bulau deu a ideia do coping block e “foram comprados uns blocos de concreto pra testar, desses pra piscina que vedem até hoje. Tercilio, Chico da Bomba e Ilzeli testaram e aprovaram, ai compraram mais blocos pra completar” conta Bulau.
Apesar dessa descrição de como a coisa foi feita, meio que na “orelhada”, o bowl saiu bem feito e assim ficaria se não fosse por um pequeno “detalhe”, que fez toda a diferença; esqueceram do ralo pra escoamento da água em dias e períodos de chuva. “A falta do ralo foi a responsável pela deformação do bowl. A água da primeira chuva que deu, acumulou no bowl, deformou as paredes. Daí em diante tivemos que nos adaptar a pista com as suas deformações”, diz Ilzeli.
Locais & Visitantes
No tempo de vida do flying Rollers, uma geração de verticaleiros teve a oportunidade de desenvolver seu skate. Entre os locais de destaque, não por acaso, estavam aqueles que literalmente deram o sangue pela pista. Jessé, Gato, Ilzeli e Tercílio (apenas Jessé não está na ativa), eram os que mais se destacavam nas sessões, embora outros locais como Samir, Zelito, Martins Junior, Ricardo Punkada, Nerion, Bulau e Eduardo Monga, entre outros, não deixassem por menos. Grinds, Tail blocks, Lay back airs, Miller Flip, Lien airs, Carving grinds, Front e Back side airs e Inverts faziam parte das sessions.
A as visitas de grandes skatistas de outros estados do Nordeste, que eram uma constante, dava um gás para evolução já que cada um trazia suas manobras e estilos diferentes. Além dos “vizinhos”, estiveram conhecendo o local, o eterno Wave Boy Jun Hashimoto, Flávio Ascânio (Pro de Street e Down Hill nos 80) e o skate expert Guto Jimenez (skatista carioca, primeiro brasileiro a correr o Mundial da Alemanha em 1987).
Mais uma vez, Ilzeli é quem dá a letra; “Jun foi o cara que mais vi andar naquele bowl. O cara chegou com manobras que até então não tínhamos visto e fez uma linha incrível! O Flávio Ascânio, quando chegou encontrou o Aero Clube fechado, então pulou o muro pra andar no bowl e teve o skate preso… Me ligaram e eu fui fazer a “limpeza” e consegui liberar o skate e os equipamentos dele. O Guto Jimenez ficou lá em casa e passou várias informações, inclusive da novidade que estava surgindo no Sudeste; o Street Skate”, finaliza.
Últimos dias
Em 1987, um campeonato realizado pela diretoria do FR, vencido por Jessé Monstro, com Alexandre Gato e Ilzeli Confessor em segundo e terceiro, respectivamente, marcaria o término o um ciclo do skate Potiguar e colocaria na história o Flying Rollers e seu bowl.
No ano seguinte com o Flying Rollers desativado mas o bowl ainda lá e uma nova geração do skate Potiguar chegando, o local continuava sendo utilizado graças a “parceria” ($$) entre os skatistas e os vigias do clube.
No início dos anos 2000, mais uma vez os irmãos Albano entram na história do skate Potiguar fazendo a diferença. Zelito aluga o local onde funcionava o FR com o bowlzão e a quadra, e abre o New Skatepark. O local por três anos é o único para a prática do skate em Natal. Com o bowlzão ainda vivo, muitos old schools aparecem pra matar a saudade do dinossauro. Os últimos registros de manobras no bowl (FS Carving Grind de Tercílho, sem equipamentos!) foram feitos por Salomão Dantas, porém estão perdidos.
Eric “Kiko’ Guedes
Fim de uma era
Em 2003, a pedido da diretoria do clube, Tercílio Albano, que então era o locatário do espaço desocupa o local e após quase 20 anos de idas e vindas, o skate se despede de vez do clube. O espaço do skate hoje sede espaço para quadras de Tênis de saibro. Uma delas cobre o Bowl.
O mais interessante é ver como o skate, um esporte que no Nordeste do início dos anos 1980 era totalmente underground, entra em um espaço elitizado da então provinciana Natal, o Aero Clube, por tanto, nada mais natural que o espaço ocupado pelo skate tenha voltado para as mãos (e pés) do não menos elitizado Tênis.
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