Skate Olímpico
por paulo costa/veteranskater
No ano das Olimpíadas do Brasil, o skate é oficialmente lançado como um esporte olímpico, coisa que já vinha se desenhando a anos e gerando muita polêmica no nosso meio.
O Veteran Skater procurou saber a opinião de skatistas de diferentes gerações, modalidades e regiões sobre o assunto e 21 deles nos enviaram suas.
Veja se alguma resposta “lhe representa” e se desejar, deixe a sua nos comentários.
“Acho muito legal o Skate nas Olimpíadas. Depois de muita batalha contra o preconceito nos anos 70/80 quando a polícia corria atrás da gente (skaters), arruaceiros… Nós éramos de uma tribo com vestimentas esquisitas, uns com cabelos compridos, outros moicanos… Não era considerado um esporte.
Agora com a evolução e mídia em cima do skate está uma maravilha, e agora nas olimpíadas é o máximo para nós, principalmente nós Legends que batalhamos muito em todo o Brasil!”
Wilson “Salada” kinoshita skatista, foi profissional de Vertical nos anos 1980
“Difícil de colocar skate dentro dos padrões das olimpíadas. Acho que por conhecer o skate como conheço, não creio que se encaixe muito. Claro que muita coisa já mudou e vai mudar ainda, principalmente quando o foco é uma olimpíada e ainda mais no Japão, pais conhecido pela perfeição. Não sou contra. Já existem o X games e muitos dos campeonatos que rolam hoje já tem um esquemão bem profissional. Eu sou do tempo que o skate era muito marginal, onde os eventos eram feitos no grito de verdade, não tinham muitas regras, enfim… Não só eu, mas, algumas pessoas somente entendem como possíveis modalidades olímpicas o Slalom e o Skate Speed, porque ambas são basicamente contra o relógio. Já as outras são muito, mas muito subjetivas.
Tenho uma ou outra questão que gostaria que fosse respondida:
– Como será o critério de avaliação para que alguém se classifique para disputar essas provas?
– Quais serão os critérios para se escolher os juízes?
– Qual entidade será responsável por essas avaliações?
– Terá, assim como na ginastica olímpica, algumas manobras básicas exigidas a todos os competidores?
E a pergunta que mais me atormenta: será que skatista ira virar atleta??????
Bem, ficam aqui as minhas dúvidas e se alguém souber, ficarei feliz em saber.
Quando existia a Revista YEAH!, surgiu a ideia de trocar o papel da revista, do papel jornal para papel couche, mais grosso, etc. Perguntei pra um anunciante que estava fazendo uma visita e foi a melhor resposta que tive a respeito: “vai perder o espirito vira-lata”.
Esse é meu ponto de vista sobre skate nas olimpíadas. Adeus espirito vira-lata!”
Hélio Greco, Fotografo, trabalhou na extinta revista Yeah! e fomentador do skate.
“Skate nas Olimpíadas é que nem comer um BigMac. É bom, mas é ruim.
É bom porque tem tudo aquilo que agrada ao paladar treinado desde pequeno para aceitar comida a base de “tempero” industrial: Tem gordura deliciosa. Tem sal à beça e atiça as papilas gustativas. Tem carne moída em forma de hambúrguer que é fácil de mastigar e cheia de tempero. Tem legumes que não tem sabor de legumes, graças a técnicas de conservação química que dá um sabor extra e faz durar um tempão. E tem o pão, que dá aquele gás momentâneo. Parece tudo muito bom, mas não é. Aos poucos e com a frequência, esta gordura do mal vai se acumulando em nosso organismo, vamos ficando gordos e propensos a doenças mortais. O excesso de conservantes químicos vão nutrindo cânceres, tumores em nosso corpo. Os carboidratos em quantidade, vão se transformando em açúcares e nos impondo o hábito dos remédios. Nosso corpo nunca mais será o mesmo.
A analogia com as Olimpíadas?
O skate terá mais espaço nas mídias comerciais, mas quem serão os “nossos” representantes? Os “atletas” olímpicos do skate? Eles irão de fato ser a cara do skateboard? O dinheiro vai entrar, já que as Confederações de Esportes Olímpicos tem direito a verbas públicas oferecidas por Comitês Oficiais. Mas pra quem irá esta verba? Que utilização terá este dinheiro? Irá formar novos skatistas “olímpicos” ou será destinada para o skateboard como conhecemos hoje?
Por fim, as competições irão reger o skateboard? A competição que coloca um contra o outro. Que quando um ganha deixa outro pra trás? Que para um ganhar, precisa ter um derrotado? Não sei não, acho que prefiro um sanduíche natural e comê-lo sentada no meio fio.”
Helga Simões, jornalista, criadora do programa Skate Paradise e proprietária da Fuego Skate
“Acho que vai ser uma grande contribuição para o crescimento do Skate mundial! Uma verdadeira evolução do Skateboard! Fui skatista profissional nos anos 1980 e fico orgulhoso de fazer parte disso e, ainda hoje, estar engajado no Skateboard Brasileiro!”
Wandeley Duarte Rodrigues “Bolão”, skatista profissional da modalidade Street nos anos 1980
Marco cruz, skatista profissional dos anos 1990 e gerente de marketing da Independent Trucks
“Acho sensacional! Sempre considerei o skate além de um estilo de vida, um dos melhores esporte do mundo, sempre lutei para que ele fosse reconhecido como esporte e o skatista como atleta. Meu sonho era ver o skate como esporte olímpico. Sonho realizado, agora teremos um novo patamar a ser alcançado e é inevitável uma nova evolução um novo estágio ao esporte e espero que modalidades como o Free Style, Slalom, Speed e Longboard sejam incluídas e não só o Street e o Vertical.
Show, vamos em frente! Que venha a evolução nas manobras, equipamentos, patrocínios, julgamentos… Há muito por fazer.”
Rogério Antigo, Skatista Profissional de Free Style desde os anos 1980 e empresário
“O que eu vejo de tudo isso é que a inserção do skate nas olimpíadas pode e vai afetar um pouco o verdadeiro sentimento que o skate passa para nós e também a razão de quem começa a andar. Muitas pessoas vão começar a andar por causa dessa influência, e esses possíveis “skatistas” não terão o sentimento de liberdade e união, entre outros, que o skate trás para nós e isso pode acabar deixando nosso esporte seco e vazio igual outros que vejo, onde o que importa é o 1º lugar. Isso também vai acabar trazendo pro nosso mundo muita informação sem validade.
Mas sabemos que quem é skatista mesmo não será afetado com isso. “Mas como o mundo está em evolução e gerações vão passar” … Não concordo com essa ideia porque um dia, essa geração que começou pelas olimpíadas vai querer criar seus próprios negócios, e como alguém que não tem esse sentimento vai comandar uma marca ou fomentar uma cena? Como será o tratamento com os verdadeiros? Não quero nem imaginar… E é por isso que não me encaixo nessa ideia, mas também sei que com isso muita coisa boa poderá acontecer, como construção de pistas mais apropriadas, mais “marcas” no mercado, etc.”
Marcio Roberto, skatista Potiguar amador radicado em São Paulo, patrocínios Hocks, Andale e Sk8shop
“O Skate é bem maior que as olimpíadas e por isso foi incluído nos jogos. Justamente para aumentar o número de espectadores com perfil jovem. Vejo como positivo, pois o skate não perde identidade, pelo contrário, ele tem um papel fundamental que dita cultura e comportamento. A essência do skate é o próprio skate! Da mesma forma que o skate underground gera mercado, o skate de competição também, esse discurso é meramente comercial, onde existem os interesses da indústria que lucra com uma imagem ou com outra.
O Legal do skate é justamente a integração, superação e oportunidade. Só vai massificar mais e naturalmente isso é bom para o skate. Acredito que existirá mais investimentos por parte dos governos e isso irá levar mais skate para mais pessoas, se achamos que o skate é livre, não devemos ser preconceituosos. Tudo evolui com um tempo e cada momento tem sua fase e o skate nunca deixará de ser skate. É muito “mi mi mi” para pouco skate de atitude.”
Jason Alexander, skatista e fomentador do skate na Paraíba
“Acredito que será uma coisa boa, com isso virão investimentos de fora do nosso mercado, atletas saudáveis, empenhados a esse propósito e também vai ajudar a cria regulamentos para o esporte tais como; cronograma anual de campeonatos e requisitos mínimos concretos para a entrada de novos profissionais. No final será bom para o mercado. A única dúvida minha é, quais categorias entrarão e qual será o formato para ser julgado.”
Rui Muleque, skatista profissional, lenda viva do street skate brasileiro
Sergio Negão. skatista profissional de vertical desde os anos 1980 e construtor de pistas de skate
“Eu não tenho muita certeza se o skatistas serão muito beneficiados pelo fato do skate ser agora esporte olímpico. Contra fatos não há argumentos! O skate cresceu com as suas próprias pernas, com muito uretano, com muito shape quebrado e muito suor dos skatistas e empresários do skate!
Não vai mudar muito para quem anda de skate. As competições podem até mudar nas olimpíadas, mas a essência do skate vai permanecer com os skatistas se divertindo, seja em uma competição ou em uma simples sessão com os amigos!
Na minha opinião as olimpíadas tem muito mais a ganhar com o skate do que o skate com as olimpíadas!”
Ilzeli Confessor, skatista veterano e fomentador “desde sempre” do skate Potiguar
“Eu achei muito positivo e tenho a mesma visão do Caballero. Mesmo que faça parte da cultura do skate uma atitude de revolta e contracultura, é inegável que ele se criou, cresceu e sempre dependeu e se beneficiou de marcas e investimento. Graças à recente repopularização e expansão do skate, todos estão se beneficiando com montes de novas pistas, equipamento disponível, eventos, etc.
Isso é muito melhor do que aqueles anos de “entressafra” e marginalização. A olimpíada vai garantir que nos próximos 4 anos irão ter mais pistas, eventos e tudo mais para quem ama esse esporte e modo de vida.
Quanto à questão do doping, acho que a vibe de competir na olimpíada vai, para a maioria dos candidatos, compensar a vontade de usar alguma substância não permitida. Quem achar que não vale a pena o sacrifício e preferir se manter usando e portanto fora do evento, fica por sua própria decisão. “
Lucas Teixeira, skatista veterano Gaúcho e Médico Obstetra
“Espero por anos a introdução do skate nas olimpíadas e eu quero e pretendo ser o primeiro para-skatista medalhista olímpico do Brasil.
Vou pilhar a CBSK até eles me colocarem, pois existem no mundo todo vários deficientes e amputados que andam, então vou ficar cobrando, pois tenho é sei da minha capacidade pra fazer acontecer.”
OG de Souza, skatista Profissional pernambucano
“Acompanho o skate desde seu nascedouro até o presente status. Se formos analisar as olimpíadas em sua plenitude, com auxílio do conhecimento em educação esportiva e os múltiplos esportes existentes, desde os seu princípio, a formação e formatação, suas modificações e adaptações, até a presente chamada de “olimpíadas dos tempos modernos”, verificamos que a mesma foi (errado ou certo) agregando esportes (??) tais como, esgrima (já morreu a mais de um século), tiro ao alvo (não se mata mais em torneios, eles não mais existem), canoagem (corredeiras artificiais), em fim.
O skate padece de regulamentações e forma de julgamentos isentos, sem interferência alheia. Como dizia Bruno Brown: “o sk8 nasceu para se praticar, formar amigos sem disputas e sem essa de o melhor!”
No momento pode-se imaginar nas olimpíadas as disputas entre praticantes de Slalom e suas variações, onde o participante enfrenta o cronometro eletrônico, cones com sinalizadores e o tempo para se dizer; que vença o melhor!!
O skate evoluiu muito e existe cobiça para inclusão nas olimpíadas modernas. É válido?! O mundo é cíclico e não para.”
SR BRUNO, fomentador do skate desde os anos 1970, pai do skatista Bruno Brown (RIP)
“Pra falar a verdade, vai tirar um pouco do lado rebelde do skateboard. Talvez ajude o esporte a crescer mais na mídia. Eu acho que a maior parte desse crescimento será no âmbito internacional.
Também trará muita política pra dentro do cenário do skate, e as pessoas que têm contatos serão os que estarão nos holofotes, enquanto os melhores skatistas não terão nem oportunidade de competir. As empresas que sempre apoiaram o skate nem vão ser citadas no evento, mas as grandes companhias serão. Então, eu vejo o lado bom e ruim do negócio. Se for para crescer a indústria do skate, eu fico feliz. Se os skatistas que merecem estar na competição estiverem, eu também estarei feliz. Mas se isso não acontecer, então eu não ficarei confortável.
Além disso, vai ser só por algumas semanas, então eu nem ligo tanto pra tudo isso.”
DAVE Andrecht, Pro Skater norte-americano dos anos 1970, inventor do Andrecht Hand Plant
“Olha eu não acho legal. Primeiro que as olimpíadas já tem ou deve ter um formato pra tudo. É mesma coisa de pegar um índio e colocar na capital… Outro mundo! O skate já conquistou o dele, com seu jeito, seu estilo e sua maneira de ser. Principalmente com os skaters que viraram referências de estilo e atitude.
Se deixarem os caras serem do jeito deles e não quiserem colocar regras, uniformes ou seja o que for pra tirar a essência do skate e passar outra pegada, outro tipo de cultura do Skate, não acho legal. Agora se deixar o skate como ele é, pode ser que ganhe mais adeptos e mais incentivo por parte do governo.”
Dota Bones, skatista veterano mineiro, empresário e fomentador do skate
“Penso que no futuro do skate seria inevitável chegar a este ponto, pois, com o volume de praticantes passou a ser um esporte de massa e a competição ganha mais ênfase. Talvez a história seja a mesma de outros esportes, onde implantarão regras criadas por cartolas, que não são skatistas, sobre os olhos das grandes corporações. Desenvolverão equipamentos tecnológicos padronizados para baterem recordes, milhares de novos adeptos irão consumir os produtos indicados pelos novos patrocinadores do skate olímpico.
Posso estar errado, não é mesmo? o skate para mim sempre foi e será um estilo de vida, uma maneira de se expressar. Ando de skate pra me divertir, sou da geração rebelde que iniciou tudo isso e vou me manter nela pra sempre, mas com certeza estarei torcendo pela seleção brasileira de skate. Vai Brasil!”
Jorge Kuge, skatista, proprietário da Urgh Skates
“Nunca vi o skate como esporte, muito menos skatista como atleta. Desde que comecei nunca parei de andar e já vivi diversas fases no skate, boas e ruins. Há uns anos atrás eles nem olhavam para nós. Éramos apenas os marginais. Agora que temos uma visibilidade enorme, todos querem uma fatia desse bolo. Era inevitável que eles quisessem nos inserir no circo deles, mesmo porque as atrações deles já não fazem tanto sucesso assim. E tudo isso é apenas business, oportunidade e grana, muita grana.
Podem inserir nas olimpíadas, podem usar uniformes, pode ser dominado por grandes corporações, podem ganhar trilhões de dólares. Podem até colocar o Galvão para narrar as competições. Mas jamais tirarão de mim a essência verdadeira disso que move minha vida há 30 anos. Algo que eles nunca entenderão e nunca serão. Deixa eles lá, nós aqui seremos sempre skatistas. Nunca atletas.”
Rogério Lemos, Pro Master de Sorocaba (SP), proprietário da cerveja Sheep Killer e Projeto Lobo. Apoio Yerbah!
“Na real o Skate nas Olimpíadas tem seus pontos positivos e negativos. Vai haver uma visibilidade enorme pro Skate! Para os skaters que irão competir será uma grande chance de se dar bem com essa visibilidade e consequentemente atrair patrocínios. Mas acho seria ruim pro Skate se submeter as regras Olímpicas e nesse ponto sou contra. Também vai aparecer muito mais paraquedistas pra se aproveitar do mercado, inclusive as grandes dos esportes. O fato é que o Skate está bem fora dos jogos. As olimpíadas precisam bem mais do skate do que o skate das olimpíadas! O COI está de olho na audiência que o Skate traz, pois com os esportes atuais está meio cansativo. Com esportes como o Skate atrairá mais espectadores, principalmente os jovens.
Existe uma entidade mundial de Skate que já está vendo essa questão da introdução nos jogos há um tempo, e já estão certas as modalidades que irão entrar, e inclusive o número de Skaters no Feminino e Masculino.
Já temos os X-GAMES que apesar de serem bacanas, é uma panela gigantesca com esse lance de Skaters convidados, deixando de fora caras muito bons e campeões inclusive. Já que é competição, as vagas tem que ser para os melhores e não pros amigos patrocinados por marcas protegidas ou por interesses… Vamos ver o que esperam para os Jogos Olímpicos nesse quesito.”
Paulo Folha, skatista profissional de Free Style desde os anos 1980 e proprietário da FLH Skates.
“Pra mim e pra imensa maioria dos skatistas, o fato do skate ter virado um esporte olímpico não vai mudar nada. Quem anda por diversão como eu, vai continuar andando por prazer: pra quem anda pra competir, abre-se uma nova perspectiva de competições. Cada um na sua.
Muitos estão preocupados com um suposto “fim da alma do skate”… Menos, gente, menos. A alma do skate é uma pra mim e pra geração dos anos 70, outra pra quem começou nos 80, 90, 00 e noutro dia. Os valores mudam a cada geração, assim é com a vida e não é diferente com o skate.
Porém, tem um fato que quase ninguém se deu conta até agora: o skate sempre modificou tudo aquilo que toca. Os streeteiros veem um playground onde a humanidade enxerga corrimãos, bancos e escadarias; o vert nasceu a partir de piscinas vazias; o downhill usa ladeiras e estradas pra nossa diversão… Faz parte do ethos do skate; nós, skatistas, continuaremos a fazer o impensável em lugares improváveis nos momentos mais imprevisíveis. Isso não vai mudar nunca.
Acho que não vai ser diferente nas Olimpíadas. Sim, também teremos os esportistas mais competentes nas disputas com o skate, com uma diferença: todos estarão se divertindo. Isso não se vê na imensa maioria dos competidores de jogos olímpicos, quem sabe eles não começam a aprender conosco?
Eu também vou achar muito engraçado ver shapes todos arranhados e eixos gastos esmerilhando os impecáveis “sítios olímpicos”…
O skate é o que cada um de nós quer que ele seja. Isso é o que precisa ser respeitado e valorizado. O resto é só conversa fiada.”
Guto Jimenez, Skatista veterano carioca, editor da revista Cruiser Skateboarding, proprietário do blog skateboarding militant e colaborador da Tribo Skate
Bruno Casna, Skatista veterano paulista
Ps.: veja mais sobre o assunto no skateboardingmilitant.com
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