Luiz Calado

10-08-2016

por paulo costa/veteranskater

Normalmente quando olhamos pra história do skate, lembramos dos skatistas que fizeram e fazem parte e esquecemos que, pra que essa história não seja só falada e/ou escrita, e que não esteja só em nosso imaginário, os fotógrafos com suas imagens foram essenciais (Na época a figura do videomeker era quase inexistente).

Conversamos com Luiz Calado, skatista, fotógrafo e redator das extintas  Yeah! e Skatin’, duas das principais revistas do skate brasileiro dos anos 1980. Calado também participou ativamente na construção da UBS (União brasileira de Skate), uma das primeiras iniciativas pra organização do skate brasileiro.

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Calado no Domínio Skate Park. 80’s

 

 

Luiz Calado

Idade: 51 (por enquanto, nascido em 1964)

Naturalidade: São Paulo, SP

Onde mora: Los Angeles, CA

Tempo de skate: Uns 38 anos…?

 

Então Calado, aquela curiosidade; como o skate entrou na sua vida?

Meu primeiro contato com skate foi por volta de 1976, quando minha família se mudou para Moema, na zona sul de Sampa. Meu irmão Paulo saiu na frente e, quando percebi, ele havia agitado uns patins velhos, separou as rodas, foi na marcenaria pra cortar um pedaço de madeira no formato de prancha de surf pequena, fez uns furos pra parafusar tudo, colou umas lixas em cima e logo mais estava andando num skate feito em casa.

Eu tinha um amigo da escola que tinha um skate Hang Ten gringo acumulando poeira embaixo da cama e eu acabei fazendo um rolo com ele, em troca de umas revistas do gênero Playboy.

Eu lembro que tinha eixos Bennett Pro, rodas Road Rider e o deck era de metal e, por isso, era bem pesado. Depois de um tempo, desencanei, desmontei os eixos e as rodas pra montar outro com tabua de madeira.

O skate era só For Fun?

Nunca tive nenhuma intenção de competir; pra mim, skate sempre foi pra se divertir. Naquele tempo, eu ia muito na livraria LaSelva do Shopping Ibirapuera, e ficava devorando revistas gringas (escondido atrás da estante, porque não tinha grana pra comprar e levar pra casa). Foi assim que aprendi a respeito do esporte, dos atletas, das manobras, das marcas e tal. Nessa época, a molecada começou a montar rampas nas ruas de Moema, e logo mais pipocaram varias surf/skate shops na área, e quando tinha sessão, juntava uma galera cada vez maior.

Como começou a fotografar? Foi através do skate?

Desde a adolescência eu tive muito interesse pela fotografia. A câmera do meu pai (que eu eventualmente me apropriei já que ele não usava muito), era uma “point-and-shoot” Olympus Pen, que duplicava o número de fotos de um rolo de filme. Ou seja, num filme de 24 fotos, você tirava 48! Eu achei aquilo uma maravilha e caí no conto!

Na real, a câmera só sensibilizava metade dos 35mm do filme, reduzindo o tamanho de cada negativo individual e, consequentemente, diminuindo a qualidade da imagem. Também descobri que a câmera era muito devagar para fotos de ação e, na sequencia, eu saí atrás de uma SLR, com lentes diferentes, flash sincronizado e tudo mais. Com um equipamento melhor, comecei a fotografar de montão e, logo mais, várias das minhas fotos saíram no jornais do bairro, com Luizinho, Celão, Not Dead, Kamisa, Bolão, meu irmão Paulo e outros, e a “Moemagem” começou a ganhar fama. Nessas, eu fui na redação da Yeah, que era na Vila Mariana naquele tempo, e deixei uma pá de fotos lá pra eles escolherem. Na época, acho que a Yeah! já estava na terceira edição. Eles publicaram uma aqui, outra ali, nada de muito espetacular.

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Reprodução Yeah!

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Lúcio Flávio. Reprodução Yeah!

Você fez parte de uma das primeiras revistas do skate brasileiro. Como aconteceu de você ir trabalhar na Yeah! ?

A oportunidade apareceu depois que o Christian Hosoi veio pra Sampa com o Micke Alba e o Eddie Reategui em 1986. Eu tirei tanta foto deles que não tinha mais onde colocar e, por isso, resolvi publicar um fanzine preto-&-branco chamado SkateZine. Com a ajuda do Jun Hashimoto (da Stanley, na época), fiz um layout de 8 páginas, vendi uns anúncios, e distribui 2 mil copias em várias lojas e tal. A recepção foi bem positiva e acabei fazendo mais duas edições: a segunda com 10 páginas e matéria de capa do Campeonato de Guaratinguetá, e a terceira com 12 paginas, e reportagem do Ibirapuera.

Foi logo depois disso que a Yeah! me chamou pra trabalhar com eles, quando a revista foi comprada pela WT (marca da época) e mudou pro Bom Retiro, por volta de 1987. Na verdade, eles precisavam mais de um redator do que fotógrafo, e foram as matérias que eu escrevi no SkateZine que abriram as portas pra mim. Na real, eu fiz de tudo um pouco ali: edição de texto, foto, assistência na publicidade, assinaturas, etc. O ambiente era muito descontraído, com uma galera bacana como: Anshowinhas, Shin Shikuma, Cecilia Mãe, André Sader e Helio Greco. Sem falar que todo dia aparecia uma facção de skatistas no escritório e virava festa. Fiquei na Yeah! tipo um ano, e nesse tempo, a revista evoluiu bastante, melhorou a qualidade, e publicou matérias clássicas (como “Andar de Skate Não É Crime”), várias historias em quadrinhos e provou que competia lado a lado com a Overall, a outra revista da época.

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Hosoi por Calado

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Kao Tai. Reprodução Yeah!

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Edsinho. Reprodução Yeah!

Outra revista de grande circulação do final dos anos 1980 foi a Skati’n, e você também esteve lá…

Em meados de 1988, foi convidado pra trabalhar na Skatin’, que era uma revista mais nova ainda, compartilhando um escritório de redação com a revistas Fluir e a Bodyboard, e publicada pela Editora Azul (subsidiaria da Editora Abril), sendo assim, tinha a disposição o melhor aparato editorial do mercado daquela época: tipografia, impressão, distribuição, publicidade, contabilidade… Não foi preciso muito mais que isso pra me convencer a mudar pra casa nova.

Fiquei uns três anos muito bons ali: comecei como redator e fui promovido a editor, e por causa do trabalho, tive a oportunidade de viajar bastante pelo Brasil. A revista também patrocinou a UBS (União Brasileira de Skate, onde fui membro fundador), a associação de skate da época onde foram organizados vários circuitos e campeonatos, dessa forma ajudando a solidificar a posição do Brasil no cenário mundial. Isso até o final de 1990, quando os executivos da Abril fizeram umas contas e viram que a revista, que era bimestral, não estava vendendo anúncio suficiente. Juntamente com a economia nacional em queda livre naquela época, o mercado brasileiro de skate simplesmente não era forte o suficiente pra sustentar tantas revistas; a Yeah! já havia fechado as portas em 89, e a Overall seguiu na mesma direção logo depois. E, sendo a maior editora da América Latina, com mais de 200 títulos nas bancas, para a Abril, um a mais ou a menos pra eles não fazia muita diferença e, assim, decidiram terminar com a publicação. Sem trabalho pra me segurar, planejei uma viajem pra Califórnia no ano seguinte.

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Rui Muleque. Reprodução Skatin’

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Rui Muleque. Praça Roosevelt. Reprodução Skatin’

Naquela época existia um bom relacionamento entre os membros das revistas circulantes (YEAH! Overall, Skatin, VS…)?

Sim, com certeza. Concorrência mesmo só aparecia nos números de circulação. É bom lembrar que as revistas eram bimestrais (quando não atrasava) e, apesar das tiragens serem relativamente modestas, as que não vendiam na banca eram devolvidas pela distribuição e, sendo assim, todas as redações acabavam tendo que estocar pilhas de revistas anteriores encalhadas. Mas entre a galera do editorial, todo mundo era – e muitos ainda são até hoje – camaradas. Um lance que eu lembro era que, entre uma publicação e outra de cada revista, tinha que ter uma festa de lançamento (da mais recente edição) e cada revista queria fazer uma festa melhor que a outra. Bons tempos!

Você citou a “Moemagem”, que foi um grupo de streeteiros respeitado, eram arruaceiros… Como era andar com esse grupo pelas ruas?

Quando eu me mudei pra Moema, haviam pequenos grupos de amigos que se reuniam em diferentes ruas, geralmente perto das áreas em que moravam. Então tinha aquela coisa de “turma” de uma rua ou de outra. Com as sessões de street (muitas vezes com uma rampinha portátil), a galera era obrigada a ir de uma rua pra outra por causa do barulho, das reclamações dos vizinhos e tal. De qualquer maneira, por causa do skate, as turmas de cada rua foram, aos poucos, se mesclando. E Moema, sendo perto de outros bairros como Brooklin, Campo Belo e Indianópolis – e principalmente do Parque do Ibirapuera – atraia gente de tudo quanto é lugar. Quando a sessão pegava forte, juntava uns 30, 40 skatistas e, com uma gangue deste tamanho, a facção não amarelava pra ninguém, nem pra polícia! Era uma anarquia geral e a molecada era bem folgada! Foi o (Antônio) Thronn que lançou o apelido “Moemagem” (imagino que inspirado no termo “mau imagem”) e depois que uns skatistas de Moema começaram a se dar bem nos campeonatos e aparecer nas revistas, a fama pegou e se espalhou pelo Brasil e pelo mundo.

A vinda do Hosoi, Eddie Reategui e Malba (entre outros, que vieram antes) foi um marco, pois, contribuiu pra evolução do skate brasileiro. Você poderia descrever o sentimento na época, uma vez que esteve lá vivendo e registrando?

Na época, o Hosoi era o rockstar do skate mundial e existia aquela grande rivalidade contra o Tony Hawk. Os dois eram sempre os favoritos nos campeonatos, mas o estilo do Hosoi (que já tinha vindo ao Brasil um ano antes) era, sem dúvida, o mais popular. Essa popularidade empurrou o skate pra frente da mídia, sendo que a segunda visita foi um evento mais comercializado e que atraiu um público maior. De certa forma, a impressão era que, entre o público brasileiro, a maioria nem sabia quem era o Malba ou o Reategui, mas isso não importava – quem estava ali era pra ver o Hosoi. Mas, na minha opinião, o fato mais importante foi ver que os skatistas brasileiros andavam num nível praticamente igual ao dos gringos – uma tendência que passou a ser comprovada repetidamente em todas as vezes que um profissional americano apareceu no Brasil e, consequentemente, todas as vezes que um skatista brasileiro teve a oportunidade de competir no exterior.

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Fred Hillwegg. Reprodução Yeah!

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Rui Muleque. Reprodução Skatin’

Como era fotografar skate naquela época, onde a realidade do skate era outra, muita discriminação e preconceito, fotografia era caro e difícil…

Não se pode negar que havia um grande preconceito que dizia que skate era brincadeira de criança, coisa de vagabundo, maconheiro, etc. Mas, pra quem está do lado de dentro, isso não faz diferença – você anda de skate por que gosta e o resto que se foda! Essa atitude era inerente ao esporte desde que ele nasceu. Skate era “underground” e, por isso, se identificava com a cultura de movimentos punk e anarquista, por exemplo. Assim como rock e graffiti, etc. Fotografia de skate era uma das formas de expressão dessa cultura. E, naquela época, era extremamente diferente do que é hoje: era muito mais trabalhoso, mais frustrante, mais caro… Porém, de novo, você faz por que gosta e o resto não importa.

 E pra fotografar, você prefere digital ou analógica?

Hoje em dia, digital é o jeito. As vantagens em comparação com filme são muitas pra numerar. Isso não significa que o valor da fotografia em filme seja menor, principalmente como forma de arte. Mas na época em que vivemos, onde a produção e o consumo de imagens é o maior de todos os tempos, a fotografia digital tem muito mais recursos para atender esse tipo de demanda. Com relação a marca de equipamento, não acho que uma é necessariamente melhor que outra. Principalmente em relação a fotografia onde, hoje em dia, a variedade é praticamente infinita. Eu acredito que o resultado final é mais importante. O equipamento é como uma ferramenta nas mãos do artista: enquanto um fotógrafo pode usar a câmera mais cara e moderna do mercado pra tirar uma determinada foto, um outro pode se aproximar do mesmo tema usando uma “caixa preta”.

 Qual sua dica pra quem está começando na arte de fotografar?

Estude muito, leia muitos livros sobre o assunto e aprenda todos os princípios básicos de composição, iluminação e do funcionamento do seu equipamento. E saia fotografando! Não se ilude, porque vai ter muita tentativa e erro. Mas, como quase tudo na vida, a prática é o caminho para a perfeição.

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Georginho Rotatori

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Ataliba Tio Liba. Reprodução Yeah!

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Rudinaldo Narina (foto principal). Reprodução Yeah!

Você tinha/tem preferência por modalidades? E skatista(s), tinha algum que você admirava e gostava de fotografar?

Não tenho preferência por modalidade. Sobre skatistas, tudo sempre depende das circunstancias. Quem é o skatista, aonde ele está andando, se é campeonato ou sessão, se é ao ar livre ou lugar fechado, de dia ou de noite… E do meu lado, se é uma foto que eu quero ou que preciso, se vai ser publicada, aonde, se vou ser remunerado pelo trabalho ou não, se é matéria ou anúncio, se tem mais fotógrafos do meu lado, tirando foto do mesmo angulo… Logicamente, quando é um skatista bom e/ou famoso, ele tem certas manobras que são “melhores” que outras, ou seja, que mostram o seu talento e estilo individual; são essas manobras que eu procuro registrar e, dependendo das circunstâncias, fica difícil alcançar 100% de satisfação.

Tendo feito parte de duas revistas importantes e da União Brasileira de Skate (UBS), como você avalia o trabalho que foi realizado naquela época pelo skate brasileiro? Poderia ter sido feito mais ou foi feito muito pra realidade da época?

Nem um, nem outro. O que fizemos, fizemos num espaço onde, (e estou falando de Sampa) antes disso, não havia muita coisa – skate era tipo recém-nascido e era preciso cuidar do nenê! Poderia ter sido melhor ou pior?  Sim, e não. A essa altura, especulação não vai mudar nada. O lance é que o trabalho que foi feito, seja lá qual tenha sido, “cimentou” (aah!) os caminhos iniciais de uma nação que, hoje em dia, é não somente a segunda maior força no cenário competitivo internacional (é uma grande satisfação não precisar de citar exemplos), mas também – e provavelmente o mais importante – o Brasil é o pais onde tem mais skatistas do mundo inteiro! A gente já ganhou em número absoluto, então o resto é relativo. Moral da história: tenho orgulho de fazer parte dessa herança e a confidencia de que deixamos em boas mãos – ou melhor… pés!

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Rui Muleque. Reprodução Skatin’

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Tio Liba. Reprodução Yeah!

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Claudio Secco. Reprodução Skatin’

Quando chegou aos EUA, você trabalhou com skate e/ou como fotografia?

Não. Eu vim pros EUA porque, na época, não tinha emprego, o Brasil de Fernando Collor estava mal e, principalmente, porque já falava inglês. Consegui um visto de 3 meses e viajei mais pra descobrir qual que era da América. Usando a conexão “Moemagem”, aterrissei em Los Angeles e caí no pico do Marcé e do Luciano “Raposåo” (irmão do Celão, que também colou logo na sequência) por duas semanas. Descobri que tinha milhares de brazucas em LA, observei o que era preciso fazer pra segurar a onda e corri atrás. Em mais ou menos um mês, eu agitei carteira de motorista, seguro social, um pico pra dormir (dividido com mais um), uma caranga e um emprego de manobrista num restaurante em Santa Monica (posso falar que já trabalhei na Broadway – na esquina da Broadway com a Ocean Avenue). Um pouco mais pra frente, a revista Thrasher publicou um artigo sobre o Brasa com um texto meu e fotos do Block, tipo em Julho de 1991. Eu tinha colocado aquilo no correio meses antes, lá no Brasil e completamente esquecido a respeito! Eles me pagaram uns $150 mas, com a redação sendo em San Francisco, acabou não rolando mais nada. Mas eu fiquei amarradão por estar morando EUA. Tinha uma galera que já estava aqui ou veio tipo que na mesma época (Kao Tai, Edsinho, Xixo, Daniel Trigo, Samuca, João Dionísio, Deri, Mauricio Bola…) e quando chegou o inverno, pintou o snowboard e aí não teve mais jeito. Virou facção Brasil na Snow Summitt, a pista de esqui em Big Bear Lake. Engraçado que, naquela época, snowboard sofria muito dos preconceitos que o skate já havia enfrentado: coisa de moleque, punk, maconheiro… Muitas pistas de esqui separavam os snowboarders dos esquiadores, ou barravam sumariamente. Hoje em dia, é esporte olímpico… Vai vendo!

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Matéria da Thrasher

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Com o irmão Paulo Calado ( á esquerda)

Você anda de skate, acompanha o que acontece no meio?

Sim, com certeza. Mas quando vim pra Califórnia, não havia tantas pistas de skate quanto hoje. Venice era um pico só de street, e a galera fazia umas sessões na mini-rampa na casa do Kao Tai (skatista old school brasileiro da primeira geração do vertical) ou tinha que ir até Santa Barbara (2 horas na estrada) pra andar na pista da Powell-Peralta. Assim, o skate caiu para um segundo plano, principalmente depois que descobri snowboard. Por cerca de 10 anos, snowboard ganhou a prioridade e quando o Daniel Trigo (streeteiro paulista e ex-pro)  se mudou pra Big Bear Lake, nós invadíamos a casa dele todo final de semana durante o inverno. Era uma galera grande, tipo 15, 20 brazucas zoando na montanha. O Daniel inclusive era empregado da Snow Summitt e, trabalhando de noite, ele pilotava um snow-cat, que é tipo um trator que empurra a neve pra construir as rampas. Com esse conhecimento, ele virou local e saiu arrepiando, mandando altos aéreos, corkscrew 540’s e chegou a se qualificar bem em vários campeonatos. A Tribo Skate publicou algumas fotos minhas, eu cheguei a aparecer na revista Transworld Snowboarding, o Winter X Games começou em Big Bear, com o Bob Burnquist fazendo doubles com o Shaun White (moleque ainda) num half-pipe no pé do morro… Estar presente nessas ocasiões é um privilégio que tenho orgulho de destacar no meu “currículo”. Ao mesmo tempo, estar longe da família (e dos amigos) que cresci lado a lado, não é pra qualquer um. Testemunhei muitos conterrâneos que “deram linha” porque não seguraram essa onda. Eu perdi um dos meus melhores amigos – room-mate de muitos anos, brother da Moemagem, o Celão – aqui nessa terra de sonhos e decepção. Skate é um dos ângulos de onde se pode observar uma trajetória de vida; é possível assumir uma perspectiva diferente e olhar do ângulo de snowboard, de mountain bike, fotografia, arte… Na Califa é onde nascem as tendências – e estar presente na hora do parto é uma honra que partilho com poucos.

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Foto que rendeu prêmio na categoria Esporte de Ação da revista Popular Photography em 2014

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Calado e Família

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Inauguração do Venice Beach Skate Park. Por Calado

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Paul Rodriguez

Um fotografo acaba sendo naturalmente um observador em busca de detalhes pra uma boa foto e acaba captando também outras coisas.  Você vê uma diferença na essência do skate e dos skatistas hoje em dia ou acha que continua a mesma?

É engraçado! Não se pode negar que o skate envelheceu! Já está na área fazem mais de 50 anos (no mínimo) e até hoje não virou “esporte” – quer falar de Olimpíadas? Nem eu! Se quiser apenas uma comparação, veja o que rolou com snowboard – que é, no mínimo, filho do skate, neto do surf, primo do bmx e padrinho do freestyle ski – esporte olímpico faz tempo, maior atração dos “jogos de inverno” e tal!
Um lance que eu me amarro no skate é a integridade. O skate nunca se vendeu – e não foi por falta de oferta (lembra que havia rollerblade no X Games?). Skate nunca foi moda e, tenho certeza, nunca vai ser. Cada nova geração que aparece agora tem a chance de olhar pra traz e ver como era antes, e essa perspectiva continua original e inalterada, e a tendência é continuar assim.

Pra finalizar, gostaria de mandar um recado?

Nem precisa. Pra quem é calado, já falei bastante. 😉

skate zine. 1 de 3 edições

Hosoi anos 1980 no Brasil…

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… Hosoi em Venice hoje, por Luiz Calado.

 

 

 

FINAL

 

 


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