Og Por Og
por VeteranSkater
Houve uma época em que apenas nós, skatistas nordestinos, conhecíamos o talento de Og, que começou a ficar conhecido por aqui a partir das participações nas competições pelo Nordeste.
O pernambucano era destemido, mostrava muito skate na veia e personalidade! Logo o seu skate falou mais alto e a sua limitação ficou em segundo plano pros parceiros de sessão.
Og quebrou tudo durante muito tempo, parou de andar em uma época que veio morar em Natal, porém, a mesma cidade que o “aposentou” temporariamente, deu impulso pra virada em sua vida.
Confira nas linha a seguir, toda a história contada pelo próprio.
O Início
Tudo começou em 1985 quando eu assisti uma propaganda de uma loja antiga de skate e surf aqui de Recife. Nela, Marcelo Agra (primeiro profissional de Pernambuco e nordestino) pulava um tonel de lixo de ollie! Aquilo me deixou impressionado e maravilhado com o esporte. Na mesma propaganda informava onde eles se encontravam pra fazer sessions de skate no centro da cidade, então, eu prontamente fui no mesmo final de semana pra ver de perto o que rolava… Nossa, o meu primeiro contato com eles foi irado, pois, todos quiseram me ajudar e incentivaram pra que eu começasse a desenvolver a pratica junto a eles. Na mesma época, o meu bairro estava sendo todo asfaltado e muitos amigos meu que eram surfistas estavam comprando e começando a andar de skate e isso foi incentivo pra correr atrás e logo cortei um patins velho que consegui e mandei um brother fazer um shape com um compensado no formato de um peixe, modelo que era a moda naquele tempo.
Primeiro comecei a utilizar o skate como meio de locomoção e sem demorar muito já estava com a manha! Então passei a descer ladeiras por perto da minha casa. Como eu já sabia onde realmente aconteciam as sessions de verdade, fui com meu carrinho improvisado pro centro da cidade pra me enturmar e fazer parte do movimento que no tempo era o skate punk de Recife. Mais ou menos uns 1 ano depois eu já estava mandando ollie e subindo tudo que era calçada que eu via, sacos de lixo, escadas e etc.
A entrada nas competições e as portas se abrem
Participei do meu primeiro campeonato quando fiz 2 anos de skate e por incrível que pareça eu ganhei. Mais ou menos 1 ano depois participei de um evento no Espaço Cultural em João Pessoa/PB onde fiquei em 4º lugar e a partir daí não parei mais e comecei a participar do Circuito Nordestino. Alguns anos depois fui morar em Natal, onde conheci vários skaters e em um evento no estacionamento do antigo estádio Machadão, tive a oportunidade de ganhar mais uma vez uma competição.
Após 3 anos morando em Natal e depois de ganhar esse evento, conheci Charles Reginaldo (skatista profissional cearense falecido em 2010) e fui morar em Fortaleza a convite dele e da Laura Helena da Nix Skate Tattoo de Natal, mas que também era de Fortaleza. Vale salientar que quando eu conheci o Charles, várias portas no mundo do skate se abriram pra mim, pois, além de ser skatista profissional, ele era lojista e representante de algumas marcas e um cara que tinha uma visão enorme e futurista das coisas no mundo de nosso esporte. Logo em seguida ele me indicou uma marca que o patrocinava e o dono ficou muito interessado em me patrocinar também. Depois de 2 campeonatos do circuito cearense o Charles me convidou e patrocinou pra ir participar da etapa brasileira do circuito mundial de skate (1999), que seria em São Paulo, dentro do Ibirapuera.
O Brasil descobre Og de Souza
Ao chegar em São Paulo, fui direto pra fábrica da Kranio, onde já fechei contrato e fiquei amigo do dono, o Osmar Fossa, profissional das antigas de Freestyle. Ele prontamente me pediu uma demonstração pra ver de perto e ao vivo onde ele estava investindo o dinheiro dele. Fomos na antiga pista da espacial, e com uma só linha de mais ou menos 8 manobras ele pediu pra eu parar e ficar de boa pra poder estar bem no mundial.
No dia seguinte ao chegar no evento, me inscrevi e ao chegar na pista fui logo recriminado por um pro que falou; “se for possível fique ali atrás da rampa pois estamos treinando pra correr o campeonato”. Não vou citar o nome dele, mais na mesma hora mostrei a minha credencial de participante e ele não acreditou que eu, deficiente, iria participar na mesma bateria dele. Rapidamente tratei de mostrar o porquê eu estava ali e varei de prima a mesa que o (Rodil) Ferrugem estava treinando também. Pra resumir, passei em 6º pra semifinal e fiquei em 15º no resultado geral do mundial.
Na semana que seguiu, fui com o Charles e o Osmar pra fabrica da Formula, e lá encontrei o Sergio Negão. Ele me reconheceu imediatamente e disse que estava indo em 10 dias pra Europa correr o circuito europeu, que teria 4 etapas; Suíça, Alemanha, França e República Tcheca. Eu me empolguei e dei a pilha, que logo foi absolvida pelo meu amigo Osmar; “Não tenho muita grana pra fazer isso, mais sei que terei um grande retorno se colocar você nessa Og”. Levantamos as passagens e o restante da grana eu teria que “produzir” com uma cota de material. Fiquei com a responsa de vender pra poder levantar o pagamento das despesas como comida e hotel.
Do Nordeste do Brasil para o mundo
Depois de combinado com os outros brasileiros que também iriam, parti com um dia de antecedência. Após chegar na Alemanha e ficar um dia inteiro esperando em Frankfurt os outros chegarem, aconteceu um probleminha; como brasileiro muito tempo em aeroporto europeu demorando muito “é treta”, levei um baculejo no meio da noite na frente de todos! Uma geral nas bolsas do caranguejo, mas tudo bem! (rsrs)
Depois de 27 horas, a galera chegou e foi uma alegria imensa pois estava em um lugar onde eu era estranho, não falava a língua, e tinha de esperar os caras pra poder comer, dormir e me locomover (rsrs)… Me juntei com a equipe Drop Dead e saímos de Frankfurt para Dortmund, onde iria ser o evento.
Chegando lá, como eu ainda não tinha vendido nada e estava “liso”, o (Nilton) Urina me pagou um rango e depois eu fui dormir no carro até a hora do evento chegar. Ao chegar na área pra fazer a inscrição, de cara encontro logo ninguém menos que Erick Koston (rsrs)! Fiz a inscrição e entrei na minha bateria, e nela estavam vários caras que eu via nos vídeos! Mike Valely, Rick McCranc, Danny Way e Tom Penny, entre outros. Todos eles eram antes de mim. Eu fiz minha primeira volta depois da volta do Mike Valely… imaginem como foi pra mim fazer minha volta depois de um cara que é peso pesado como ele? O ginásio quase caiu, e eu tremia mais que vara verde! Mas eu tinha na minha mente a determinação de fazer o meu melhor naquele momento. Quando falaram meu nome, todos ficaram procurando quem era (Eu até hoje agradeço a Deus por ser instrumento do poder dele, pra provar que Ele e um Deus poderoso e fiel em quem acredita N’ele). Fiz a volta e não errei nada! Pense que eu consegui fazer o que nem o Valely, nem o Koston e nem nenhum outro conseguiu; levantar todo o ginásio que tinha 9 mil pessoas no momento! Logo em seguida após a bateria fui pra fora do ginasio, pois tinha que vender meus materiais pra fazer grana e então outra grata surpresa aconteceu que eu não acreditei: Consegui vender tudo em menos de 40 minutos o que os brasileiros levaram toda a trip pra vender! A partir daí foi só alegria, pois pra finalizar, meu nome estava na lista da grande final da competição no dia seguinte.
Quando o campeonato terminou, recebi o convite do Titus (Dittmann, o organizador do evento), que me ofereceu passagem, hospedagem e transporte, fora um bom cachê pra no ano seguinte ir novamente com tudo pago!
Depois de tudo isso, seguimos pra França (passamos um tempo em Paris) e depois fomos pra Praga (República Tcheca).
Reconhecimento e consagração
Nesse primeiro ano foi reconhecimento total por parte de todos pra com a minha capacidade e determinação, fora minha grande força de vontade e amor pelo skate. Até hoje posso dizer que amo o que faço e não existe dinheiro que pague a satisfação de poder estar encima do skate tendo a adrenalina de fazer uma manobra e tudo isso é visível para os que estão ao meu redor, e eu realmente sinto isso e faço com amor e prazer.
Após todos esses acontecimentos, nos 2 anos que se seguiram eu tive todo suporte necessário para voltar e andar bem novamente, inclusive, já no ano seguinte, o cartaz os outdoors do evento por toda cidade de Dortmund eram com a minha imagem. Pra fechar, eu consegui ter o prazer de ser o campeão do Best Trick, ganhando o que já estava considerado ganho, pois o francês Bastien Salabanzi, que na época era da Flip, já era tido como o grande campeão do BT. O que aconteceu foi que após ele fazer a manobra dele, eu pedi um oportunidade e subi pra fazer a minha. Como sempre Deus me abençoou de forma tremenda, fazendo eu acertar uma manobra de primeira num corrimão que era bem cabuloso!
Após esses acontecimentos, fui chamado pra equipe da Drop Dead e comecei a viajar por todo brasil fazendo tours e mostrando meu skate pra todos e representando, até então, a marca que era considerada a melhor do Brasil, pois tinha os melhores atletas e os materiais mais style. Comecei a participar do Circuito Brasileiro Profissional, o qual passei um bom tempo entre os top 15 do ranking.
Em seguida veio a proposta do Bob Burnquist pra entrar na Hurley e começar um trampo como cidadão brasileiro e funcionário americano. Ao fechar contrato fiz minha vídeo parte com meu profile no vídeo mais desejado e visto pelos skaters; o 411 Video Magazine. Nessa equipe eu fiquei mais de 8 anos, andando com o patrocínio da marca. Logico que o meu skate vai além, mais toda marca que paga quer resultados como colocações boas em eventos importantes, e foi ai que começaram a vir as cobranças. Eu, logico, fiquei triste mas entendi que, se eu amo andar de skate, não vai ser por falta de patrocínio que vou parar de fazer o que eu gosto. Em 2010 o meu contrato com a marca terminou e não foi renovado, até porque não havia interesse de ambas as partes.
De volta ao Skate For Fun
Enfim, hoje, após 6 anos continuo fazendo o que gosto e amando mais do que nunca o esporte que me proporcionou várias alegrias e continua me dando muita adrenalina. Hoje vejo que minha trajetória dentro do esporte fez a diferença e mostrou que o skate não tem limites!
A mensagem que eu tenho pra deixar pra essa molecada que está chegando agora é que ande de skate por prazer e que sempre veja sua pratica como um exercício. Tenham amor pelo que faz, não tenham com objetivo dinheiro ou fama, pois isso vem como consequência de sua luta e dedicação. Pratique e se sintam bem a cada manobra executada e muito skate na veia!!!
Boa sorte a todos, muito obrigado ao Veteran Skater pela oportunidade dada pra eu falar um pouco da minha vida e da minha trajetória encima do carrinho.
Deus abençoe a todos!
Assista abaixo a lendária parte de Og no igualmente lendário 411 Video Magazine
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