ENTREVISTA: RUI MULEQUE

02-04-2010

Um dos grandes representantes do street skate Brasileiro dos anos 1980, campeão Brasileiro, membro da lendária equipe Lifestyle… A lista é grande! Rui Muleque, como é conhecido, é hoje Cinegrafista profissional, Pai de familia e Cristão com muito skate no coração.
Conseguiu um espaço na sua agenda e gentilmente concedeu ao Veteranskate esta entrevista para sabermos com está, o que faz e algumas histórias sobre sua vida.
Foto por Ivan shupikov(www.shupikov.blogspot.com)

Por onde anda e o que faz hoje o Rui Muleque?
Resido em Ribeirão Preto/SP e gerecio uma skate shop local e também sou sócio de uma produtora e fazemos eventos por todo estado como oficinas, vivências, campeonatos e demonstrações em parceria com prefeituras e o Sesc. Antes trabalhava como cinegrafista .
Em que ano você deixou o skate profissional?
Deixei de competir em 1992
Quantos anos já de skate? Como foi o início?
Tenho 32 anos de skate. Comecei a andar em 82, numa época em que mesmo tendo dinheiro não se achava material para comprar, pois o esporte havia se extinguido. Hoje é fácil comprar um skate, você vai em qualquer shopping e encontra várias lojas com todo o tipo de material, mas nem sempre foi assim. No Brasil, o skate teve inicio na década de 70. Com a popularização do esporte nesta época, várias empresas de diversos segmentos resolveram investir. PEPSI (refrigerante), GLEDSON (Jeans), COSTA NORTE (surf), BEIRA-RIO (marcenaria), TORLAY (ar-condicionados) entre outras. No inicio dos anos 80 com a chegada da BMX (bicicross) nosso esporte teve uma queda. Como nenhuma dessas empresas dependiam do skate para se manter, elas abandonaram o mercado. Pistas foram fechadas, os atletas profissionais perderam seus patrocínios e as lojas não mais recebiam materiais. Para o esporte não morrer completamente alguns skatistas começaram a produzir seus próprios materiais e foi aí que nasceu o mercado que existe e resiste até hoje.
Qual foi seu primeiro patrocínio?
A Sonel que era uma marca de surf. Eles me davam duas camisetas e diziam que estavam me patrocinando.
Quanto tempo passou de Amador?
Uns três anos
Você na época de amador estava entre os mais velhos, não? Lembro de um evento em Santos-SP os amadores tinham na faixa dos 15 anos e você com 21. Você começou a andar de skate tarde?Eu comecei à andar de skate com 14 anos. Ueda com essa mesma idade já era profissional consagrado, ficando em quarto lugar no mundial da Alemanha. Nunca me senti velho na época em que eu competia, mas quanto mais cedo você começar melhor.
Em que ano você deixou o skate profissional?Deixei de competir em 1992
Na época de pro a remuneração era satisfatória?
Hoje a galera ganha bem mais, mas não posso reclamar daquela época, pois a Lifestyle era a marca que melhor pagava no skate. Cheguei a ganhar 10 salários fora material e roupas e cada apresentação que fazíamos era mais 1 salário e despesas todas pagas pelo contratante (tinha Demo quase todo final de semana).
Você tinha uma relação mais estreita com o Mauro da Lifestyle não?
Até hoje somos grandes amigos! Meu patrocínio é remido disse ele. rsrsrsrs
Como foram os anos Lifestyle em termos de equipe? Era bom o relacionamento?
Foi à melhor equipe de todos os tempos, havia uma união entre nós e isso era contagiante!
Participou de outras equipes?
Só Lifestyle até hoje.
André Amaral, Rui Muleque, Rogerio Mancha, Marcio Tarobinha, ari Bason, Beto Or Die, Daniel Arnoni e Bob Burnquist.Equipe Lifestyle
Como foi a época de baixa do skate pra você? Que caminho seguiu?
Em 90 veio o Plano Collor e quebrou o país. As marcas já não tinham como manter seus atletas e não havia mais campeonatos. As maiorias dos skatistas foram procurar emprego em outras áreas. Eu no meio dessa crise toda estava abrindo minha loja em Ribeirão Preto onde fiquei por quase 10 anos.
Você acompanha o que acontece no skate hoje ou está sossegado com relação a isso?
Acompanho dentro do possível.
Seu lendário deck foi um dos mais vendidos na época? Quantas versões houve dele?
Foram seis models.
De onde veio a ideia do gráfico remetendo ao Egito, pois seu primeiro gráfico (Um moleque de boné para trás e estilingue) era bem sugestivo…
O primeiro model eu tirei a ideia do shape do Mark Gonzales e estilizei. Sempre gostei de desenhos egípcios, no segundo e terceiro models resolvi usá-los.

Propaganda do Pro Model Rui Muleque stage III veiculada por volta de 1989

A história do Aerowillys? Quantos anos ficou com a caranga?
O Aerowillys foi uma história engraçada. Quando voltei de Portugal, queria comprar um carro. Meu pai me disse: “Filho, tem um carro perto do meu trabalho que é a sua cara”. Só que ele não quis dizer qual era. Lá fui eu ver o tal do carro. Quando cheguei veio logo um rapaz dizendo: “Seu pai me disse que você adora carro antigo!” – “Que?” Não sabia era um carro velho, e meu pai tava todo animado. Puxei meu ele de lado e disse “não vou comprar essa lata-velha!” – “Leva o carro, se você não gostar eu te dou o dinheiro e fico com ele”. Sem escapatória, lá fui eu pra casa, com a caranga, morrendo de vergonha. Foi só chegar ao bairro e a galera toda veio ver. Todos curtiram ai eu fui animando. No dia seguinte fui até a revista Skatin e quando os caras souberam da novidade não acreditaram e disseram: ” Até que enfim um skatista com estilo”.
Fiquei com ele uns 8 meses, mas foi o suficiente para marcar. Vendi-o para montar minha primeira loja no final de 90 e até hoje à galera pergunta sobre o Aerowillys.
Você tem um jeito rápido, veloz de andar de skate. Fale um pouco disso…
Sempre gostei de andar no gás, nunca fui muito de tric-tric, gosto de manobras altas ou estendidas.
Quais skatistas você admirava? E hoje quem você gosta de ver andar?
Do street – Natas, Gonzales, Mike Valely
Do Vert – Hosoi, Tony Hawk
Freestyle – Rodnei Mullen, quem eu tive a honra de presenciar andando.
Hoje gosto de ver Bob e Daewon Song, entre outros.
Você representou o Brasil em quantos mundiais e quais foram às colocações?
Em 1989 participei do mundial de Münster na Alemanha ficando em 18º lugar.
Em 1990 me machuquei sério nos treinos na Alemanha e acabei não recuperando à tempo pra competir no mundial da França.
Muitos sentem a falta de um circuito Brasileiro profissional. A vinte anos tínhamos um circuito pré definido, as marcas investiam no circuito pro. Como você vê isso?
Ainda falta união entre as grandes marcas de skate. Isso dificulta muito, pois cada um quer puxar a sardinha pro seu lado. Quem sai perdendo é o esporte.



Fale um pouco do contato com os gringos naquela época em que os Brasileiros ainda não eram tão bem vistos…
Em 1989 o skate brasileiro não era conhecido lá fora, fomos nós que mostramos o todo potencial do esporte que até então eles nem sabiam que existia.
Conheceu muitos lugares através do skate?
Através do skate, conheci vários países (Alemanha, França, Espanha, Suíça, Portugal).
Também tive a oportunidade rodar o Brasil fazendo apresentações e participando de campeonatos.
Lembro da demo que vocês fizeram aqui em Natal. Você lembra da passagem por aqui? Era Você, Jum e Akira Matsui e o Trhon…
E como lembro!! Conheci as dunas de Genipabú, Ponta Negra, Praia dos Artistas. Lembro-me que na época cheguei a comentar que Natal era uma cidade que gostaria de morar e ainda penso muito nisto (as pessoas de Natal são muito amigas e hospitaleiras).
Como você compara essa fase atual do skate em SP com o final dos anos 1980 onde também existiam várias pistas?
Hoje tem pista pra tudo quanto é lado. Naquela época era bem mais difícil.
Você acha que teria mercado para skate old school no Brasil a exemplo do que ocorre nos EUA com reedições de shapes, rodas e etc, já que o Brasil tem uma rica história com relação ao mercado e indústria do skate?
Com certeza.
Como você entrou para área das imagens?
Comecei a trabalhar em TV em 2000 fazendo produção do programa Hermes e Renato na MTV.
Rui e Mauro Life com os filhos
De onde vem o apelido Muleque?
Tudo que você não gosta pega, comigo não foi diferente. Na época eu havia acabado de entrar na Life. Tinha cortado meu cabelo bem curtinho. Como sempre usei meu cabelo mais comprido, a galera começou a tirar uma comigo dizendo que eu tinha ficado com cara de muleque. Na mesma semana teve um campeonato em Moema (São Paulo) e meus amigos para zuarem comigo, pediram para o dono da Life me inscrever como Rui Muleque sem eu saber. Quando me chamaram pra correr foi só gargalhadas e como se não bastasse acabei ficando em segundo lugar e ai todo mundo vinha falar comigo me chamando pelo apelido. Desse dia em diante fiquei conhecido como Rui Muleque.
Seu filho gosta de skate?
Muito, é uma das quatro profissões que ele diz querer. As outras são: Bombeiro, cientista e jogador de basquete
Que tipo de som escuta?
Agora que sou cristão e ouço bastante música gospel.

Família


Como foi participar do evento da 100% skate? O que achou da iniciativa? Foi demais, não esperava o convite, acho que a galera que tava lá também curtiu. São eventos como este que fortalecem o esporte.
O street skate? Ainda rola hoje? Infelizmente só tenho andado de Banks.

O skate mudou. E o skatista, você acha que mudou também? Hoje é outra geração. Toda época suas características peculiares.
Participaria de uma competição de street skate old school? Hoje não.


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