ENTREVISTA: JAMESON “MOLEZA”
O veteranskate contactou Jameson para que conheçamos um pouco de sua história e saber como anda a vida desta lenda do skate Potiguar.
Quem te influenciou pra começar no skate?Fui eu mesmo. Quando eu vi os caras andando no bowl do Aero Clube, fiquei assustado, e depois pensei , é isso que eu vou fazer !
Tony Hawlk, Dany Way, Matt Hensley, Mike Valley e Ray Barbie, entre outros.
Qual o primeiro skate?
Meu primeiro skate, pra variar, veio de uns patins Bandeirantes velho que usei pra montar um skate. Algum tempo depois, comprei um skate usado de um cara que andava no Aero Clube. Esse era dos grandes, com o eixo e shapes largos, próprios para o vertical.
Como foi a época do bowl?Foi uma prova de fogo. Sem equipamentos adequados, sem conhecimento e com muita vontade.
A pista em si, era podre. Cheia de calombos e imperfeições, uma das paredes do canion parecia
de wall-ride. Aquele bowl era uma fábrica de “base”. Quem conseguisse andar bem nele, conseguiria andar em qualquer lugar.
Foi produtivo. Não tinha ninguém pra dizer se a manobra era fácil ou difícil, então eu fazia todas
sem me preocupar.
E a época que começou o street mesmo aqui? Quais suas lembranças?Por volta de 1987. São muitas lembranças! A Av. Afonso Pena foi palco de grandes junp-sessions. As manobras começaram a chamar a atenção de todos, da imprensa, da população, da TV, dos investidores…
O segredo é não ter medo de voar (hehehe).
Existiu um período e/ou pico da época que você mais gostava?
Vários picos… é difícil citar só um. A quadra do Aero Clube, Parque das Serras, Extinto Pão de Açúcar, Campus UFRN, Half Pipe do Machadão, uma praça perto da minha casa… Sem citar os picos em Recife, João Pessoa, Fortaleza, Maceió, Aracajú… foram muitos.
O estilo Overall sempre me atraiu. Na minha época eram poucos que conseguiam manter o nível em todas as modalidades que praticavam. Isso aqui no Brasil, porque os gringos sempre andavam em tudo. Então o lance era assistir os vídeos de skate e tentar fazer todas as manobras, seja onde for. Quanto a mini-rampa, essa era minha verdadeira paixão. Era raro ver uma aqui no nordeste, tínhamos que nos virar com quarter-pipers. Mas quando a mini do Machadão chegou, valeu a pena.
E as sessions no Machadão? Quais sua lembranças?
Naquele half-pipe eu evolui bastante. Naquela mini-ramp eu aprendi quase todas as manobras de borda que sei, blunt, nose-blunt, front-side ollie to nose-blunt, smith-grind, nosepick no-hand, madonna, may-day, 360 rock-slide… Na inauguração, tivemos a visita de alguns Pros, e entre eles o Cácio ”Narina” que me convidou para sua equipe, mesmo eu estando fora da lista dos convocados.
No vert minhas preferidas eram os “rock´n´rolls”. Rock´n´Roll de back, de fakie, Pogo, Pogo-flip…
No Street eu gostava de voar nas “jump-ramps”. Judo-air, ollie, one foot, no-foot, christ-air, roket, 360 judo-air…
Tinham também os plants, hoho-plant, janpan-plant, ollie-flips, doble-flips…
Você sempre foi muito exigente com a perfeição das manobras. É resultado da personalidade? É assim em tudo?
Sou assim em tudo. Tem haver com personalidade e disciplina. Eu gosto de desafios e sempre estou preparado.
Música faz parte. Sempre fez. Escuto Rock Cristão, bandas nacionais e estrangeiras. Dogwood, Swithfoot, Oficina G3, Metal Nobre… Prefiro letras de adoração a Deus.
Chegou a viajar muito pelo skate?
Bastante. Dos 14 até 20 anos de idade, quando tive que interromper o skate.
Quem andava com você na época?Eu viajava bastante, então eram mais skaters de outras cidades. Aqui em Natal alguns se destacaram, Ilzeli, Jessé, Tercílio, Eduardo “Monga”, Paulo Negão, Franklin, Evandro, Paulo Playboy, Douglas, Sérgio Leite, Tiburcinho, Rafael “Magei”, Morcego, Charles Andrade…
Nos outros estados, Fábio André, Kiko, Ney, Ferbson “Pentelho”, Falcon (PB), Gabirú, Marcelo Agra, Og de Souza (PE), Charles Reginaldo, Guabira, Júnior, Gato (CE), Adelmo juninho, Mosquito (SE)… e por aí vai.
Você fez parte da equipe Opeste Natal, do grande João Carvalho, que era muito ligado ao skate e sempre tava envolvido em eventos. Como funcionava? Seu talento pro desenho lhe deu sua profissão hoje. Você chegou a fazer desenhos pra fábricas do skate nos anos 1990, não?Sim. Fiz ilustações para várias marcas da época, entre elas, Tailon, Fifth, Narina, Opeste…Hoje sou ilustrador e chargista. Pinturas digitais, Caricaturas, esculturas e Animações em 3d também fazem parte.
Vc vem de um lar evangélico. Como foi esse relacionamento com esse lado espiritual e o skate? E com está hoje em dia? “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará.” Sal 37:05
É, aquilo foi realmente complicado…
Eu mantinha o equilíbrio mental focado. As “sessions” eram treinamentos intensivos para competições. Sempre em busca da evolução e precisão nas manobras. Os campeonatos eram verdadeiras festas e por isso eu gostava tanto. Vencer, é claro, faz parte. Como consequência da minha disciplina e dedicação, conquistei o bi-campeonato (87, 88) norte-nordeste de Street em Fortaleza, e algumas dezenas de troféus de 1º, 2º e 3º lugares em vetical, mini-ramp e street, em 6 anos de competição.
Você teve patrocínios que te davam um suporte bom?
Tive vários patrocínios, poucos eram bons. Entre eles a Opeste (SP/RN), DropLip (CE),
a Narina, Flywalk e Tailon (SP).
A Opeste tinha uma equipe com os melhores atletas do Surf, Skate e Bodyboard da época. Eu, Joca Jr., Aldemir Calunga, entre outros. O Joãzinho era como um irmão mais velho, gente fina, bancava de tudo e obviamente, tinha seu retorno garantido.
Você chegou a testar um model de shape que iria sair pela Flywalk, Não?
Sim. Eu tinha um model meu em testes, só faltando algumas definições minhas pra ser lançado, infelizmente sofri uma contusão grave no joelho esquerdo e tive que parar por mais de um ano.
Como ocorreu a lesão no joelho?
Em 1992, durante o segundo campeonato Norte-Nordeste de mini-ramp, no half de João Pessoa, torci o joelho ao desistir de um “front-side ollie to nose-blunt” e voltar andando na transição. Foi o fim. Na hora, eu senti que Deus tinha outros planos para mim. Tentei voltar inúmeras vezes, mas, só piorava ainda mais a lesão no joelho. Optei por não cirurgiar, pois não confio inteiramente neste processo em particular. De lá pra cá, foram 17 anos de dor e sofrimento, tentando inutilmente voltar a andar de skate.
E do Nordeste, quem eram os caras que você gostava de ver andar?Gostava de sentir a adrenalina da “session”. Evoluir junto. Não ficava parado olhando.
Sua casa era um ponto de encontro da galera, alguns skaters de fora sempre ficava lá…conte com era isso? Os seus pais apoiavam?
Era natural na época, fazia parte do movimento de intercâmbio cultural do skate. Os skaters se conheciam nos campeonatos e mantinham o contato, marcando sessions nos outros estados. Meus pais davam o devido apoio e checavam as irregularidades (hehehe).
Você e Marcelo Agra (Primeiro Pro Skater do Nordeste) sempre estavam juntos, apesar de serem de estados diferentes. Ele era uma inspiração? Como era essa amizade?
O Marcelo “Boberinha” tinha um street-skate de alto nível. Nas nossas sessions eram poucas palavras e muitas manobras. Na época até fez uns shapes da Eka! (Primeira marca de shapes do Marcelo Agra) com meu model. (rs)
Agradeço à Deus por ter misericórdia de mim, e me salvar. Sou cristão desde a infância, durante os anos que andei de skate, procurei me manter dentro do caminho da salvação. Não foi fácil. Deus me livrou da morte várias vezes. Inclusive uma, presenciada por alguns skaters da época (Você, Due, Sérgio Leite…) onde ao discutir com um assaltante no half do Machadão, tive uma pistola apontada para meu pescoço durante a briga. Mas, Deus, que nunca me abandonou, me livrou de mais esta. Nenhuma bala me atingiu.
Hoje estou casado e vivendo feliz, na Paz do Senhor Jesus Cristo.
Há se eu pudesse…
Ps: Mais sobre Jameson no post História do Street Skate em Natal.
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