ENTREVISTA: TERCÍLIO ALBANO
Confiram um pouco da história e contribuição deste pioneiro do skate nordestino desde a sua primeira batida até o último madollie.
Tercilhão e Tercilhinhoi. By Koolidje
E ai Tercílio, quantos anos de vida e de pista?
Com um irmão surfista, tendo sido influenciado por ele no skate, vc chegou a surfar?
Tentei, mas é muito difícil! Achei Skate mais fácil. (rs)
Você tinha um skate bom pra época?
Qual seu skate hoje?
Shape Drop model kosaque, truck Independent (sempre!), rodas bowl bomber P. Peralta e rolamentos Abec.
Onde eram os picos nessa fase?
Onde tivesse asfalto liso! No cruzamento da rua Apodi com a rua princesa Isabel no centro. Ladeira do hospital da polícia (Prudente de Morais) e Via Costeira que estava sendo construída. Pegava a Kombi do meu pai, colocava a rampa dentro. Chegava no pico, escorava a rampa na Kombi e andávamos até as pernas agüentarem!
Paulo negão: Essa era a Kombi da discórdia? (rs)
Era. Rolavam umas disputas entre eu e meu irmão pela Kombi
Seu pai sempre apoiou você?
Sempre. Não gostava muito quando tinha que tirar dinheiro do bolso (rs).
Existe umas lendas ali da via costeira quando estava em construção. Quem desceu a ladeira a milhão e ia bater no portão e o vigia abriu?
Isso foi com Jessé (monstro). (rs). Desceu a ladeira no gás e no último momento apareceu um trabalhador da obra e abriu o portão. Ele ia bater de frente. Já Zé Lito passou por mim no gás descendo a ladeira. Na hora eu disse; Vai se ferrar!! O skate começou a balançar… Que queda! Quase morre. (rs)
Como eram as lendárias sessions na pista de João Pessoa?
Quase todo fim de semana e as vezes agente acampava lá. Isso foi entre77/78 a mais ou menos 1983. Não tínhamos pista aqui, então agente se juntava e ia pra lá. Levávamos uma barraca e montávamos na pista. Passávamos semanas lá. Tinha uma galera de Recife, Aracaju e o pessoal de lá.
Mas sempre foi tranqüilo ou rolou alguma encrenca?
Algumas e outras histórias engraçadas. Bulau uma vez confundiu a panela de uns pedreiros de uma obra próxima a pista com sucata e cagou dentro…rsrs…no outro dia quase agente morre. Várias histórias engraçadas também. Fábio de João Pessoa, na época um moleque, sempre estava pegando nossa comida. Eu e bulau pegamos um rato podre e colocamos no pão… o cara pegou escondido o “sanduíche” e chegou a da uma mordida(rs), imagina a cara dele quando notou o que estava comendo(rs).
Ilzeli: É, e outra vez você se confundiu com um traveco (rs)…uma gatinha!
Você sempre teve esse lance de construir pistas… Fazer a coisa acontecer. Fala um pouco disso?
Agente tinha que andar! Fiz várias rampas, depois fiz um “half” em casa no alecrim, participei da construção do half da Opeste na praia dos artistas, o half da drop lip em Fortaleza, do bowl do flying rollers/aero club, inclusive a idéia do coping de concreto foi do meu irmão. Fiz meu half em Ceará Mirim, auxiliei na construção do skate park de Ceará Mirim, acompanhei de perto a construção do half da esperança que hoje é a mini que agente anda e que eu estava a frente na reforma.
E as sessions no seu half na sua casa em Ceará Mirim? Qual a lembrança?
Era muito massa as sessions! Toda a galera que aparecia lá daqui de Natal e de outros estados… Muito massa! Vários caras andaram bem lá. Luciano Kid, Narina e Mauricio Campos (profissionais de destaque dos anos 1980) estiveram por lá. Os caras que mais me impressionaram foram Tarobinha e Charles Reginaldo. Os caras voaram muito de ollie! Esses últimos já foram lá na fase mini rampa da pista.
Como está essa pista hoje?
Depois que voltei pra Natal, praticamente não se andou mais lá. Tinha uma galera local que estava pulando o muro pra andar e eu recebia muita reclamação da vizinhança, então quebrei o flat pra evitar que andassem. Hoje ela está assim, com o flat partido.
E o Half de uma loja de Fortaleza que em 1987 que Vc, Ilzeli, Monga, Samir, Jessé e Bulau saíram daqui pra construir…como foi essa história?
Roubada geral!! O cara prometeu mundos e fundos e na hora Nada!! Fomos mal pagos, comemos mal, dormimos mal. Mas o half ficou bem feito.
Você também chegou fabricar shapes? Qual era a marca?
Isso já foi de 1984 p/ 1985. Cheguei a fazer algums, mas não deu certo. O material disponível aqui era muito fraco. O concave ficou legal, mas a durabilidade muito baixa. A marca era ANARQUIA.
Nos anos 1970 e 1980 existia algum contato com o pessoal do sul e sudeste onde o skate já era mas bem estruturado?
Não sabíamos nada sobre o skate e os skatistas destas regiões. Não havia contato. Só após mais ou menos 1985 é que Ilzeli começou a fazer contato com alguns caras dessas áreas, mas, até ai era só o pessoal local e de outros estados do nordeste.
E como vcs faziam pra aprender manobras?
Chico da bomba e Aluizio compravam a revista SKATEBOARD no aero porto. Eles sabiam inglês, então traduziam pra gente. Algumas vezes víamos a seqüência das fotos, em outras, víamos as foto e imaginávamos como seria e tentávamos. Era assim fazíamos… Na marra!
Paulo negão: Você chegou até a ir Bahia pra andar de skate, não? Como foi isso?
Pois é. Fui em 1982 com Rochinha, que conheci em João Pessoa através de Kiko (skatista old school Paraibano), e os pais dele. Viagem bem cansativa na época! Rochinha era uma cara que andava muito de skate e tinha um bowlzinho em casa na cidade de Petrolândia. A transição da era perfeita, mas, não tinha nem flat nem coping(rs). Era uma quenga de côco. (rs)
Uma vez Jamesom moleza (Pioneiro e grande campeão do street nordestino dos anos 1980/1990) me falou que vc foi o primeiro cara que ele viu andando de street…
Jogava umas manobras na rua. Gostava de inventar. Inclusive nessa viagem com Rochinha pra Bahia foi onde andei muito na rua.
Bowl do aero club. BS canyion
Você deu uma parada nos anos 1990?
Não. Dei uma diminuída com o skate. Família, muito trabalho… Sabe como é. Mas nunca parei! Andava em casa sempre que vocês apareciam por lá e as vezes também vinha pra Natal andar no Machadão.
E a família? Ta grande?
Mais ou menos. Do meu primeiro casamento são três filhos e dois netos. Do segundo, uma filha.
Pai e filho dividindo a plataforma. Esperança. Natal-RN. By Paulo Costa
Nos anos 2000 você voltou a ter um relacionamento mais estreito com o skate novamente através do New skate Park. Como foi?
Meu irmão (Zé Lito) colocou o park no aero clube onde era o antigo Flying Rollers . Fizemos os obstáculos de street e colocamos na quadra, uma mini rampa e o antigo bowl ainda estava lá apesar das imperfeições. Depois ele desistiu e passou pra mim e eu toquei ainda por ums três anos. Em 2003 o aero clube pediu o ponto e tive que encerrar as atividades.
Qual sua atividade hoje?
Tenho um restaurante no CEASA. É bom e tenho uma clientela grande e fixa, porém, é muito cansativo, pois nós servimos café da manhã e almoço… O dia de trabalho começa as 4:00 horas da manhã. Estou pensando em vender e voltar pro meu antigo ramo que é oficina de automóveis.
A cria Tecilhinho Albano. Melon to fakie. Pipa-RN. By Paulo Costa
E o skate hoje? Como rola?
Apesar do cansaço ando ao menos uma vez na semana e no sábado. Além do skate com os amigos e meu filho, a descontração durante a session é muito bom e tem também o bate papo após com aquelas risadas. Às vezes viajamos pra João Pessoa, tem as confraternizações com a galera. Esse é o meu skate hoje.
Pra terminar, até quando pretende andar?
Até as pernas não agüentarem!
BS Salad grind. Esperança. natal-RN.By Koolidje
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